o
intervencionismo apenas pode ser associado à esquerda se seu condão for
igualitário. São condizentes com um intervencionismo de esquerda políticas de
redistribuição de renda, que oneram os mais ricos e transferem recursos para os
mais pobres mediante diferentes tipos de política social. O mesmo vale para
políticas regulatórias que obrigam os próprios agentes privados a promover
algum tipo de redistribuição, como é o caso do salário mínimo. (...). Aliás,
decorre da diferença nas políticas públicas - mais do que nos valores
professados - a oposição crucial entre esquerda e direita.
Cláudio Gonçalves Couto
Retomo a discussão sobre a dicotomia entre esquerda
e direita iniciada em minha coluna de duas semanas atrás, tema abordado também
por Pedro Floriano Ribeiro, sexta-feira da semana passada. Em minha coluna
apontei que a polarização se estrutura com relação à questão da igualdade, pois
enquanto a esquerda propugna pela igualdade, a direita faz o oposto.
Essa categorização pode causar algum estranhamento,
primeiramente aos que compreendem que a distinção crucial entre ambas se
refere, na realidade, à maior ou menor intervenção estatal na economia; em
segundo lugar, àqueles que supõem a igualdade como um princípio fundamental,
não havendo quem a ela se oponha. Na verdade, as coisas são um pouco mais
complicadas do que presume esse senso comum.
A associação automática entre a esquerda e o
intervencionismo econômico decorre de um posicionamento muito específico com
relação ao assunto, que tem como referência a perspectiva econômica liberal.
Para esta, com efeito, tal intervenção deve se ater ao mínimo indispensável à
proteção dos contratos e da propriedade, bem como à solução de certos problemas
de ação coletiva necessários à produção de bens públicos, permitindo que o
mercado se ocupe sozinho da alocação ótima dos recursos. Na medida em que tal
posição se assume como de direita, compreender-se-ia que a intervenção nos
mercados seria coisa da esquerda. Mas nem sempre é assim.
(...)
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continuar a leitura, acesse:
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Cláudio Gonçalves Couto
– Cientista
político, professor da FGV-SP e colunista convidado do "Valor" – 23.05.2014
IN Valor Econômico.