quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Impedir a terra arrasada


Desde os anos 80 o País vive um processo de desindustrialização que o afastou das tendências globais e da nova dinâmica dos mercados.

Luiz Gonzaga Belluzzo e Júlio Sérgio Gomes de Almeida
O propósito deste artigo é sugerir orientação para a política industrial do Brasil. Começamos por sustentar o ponto de vista que atribui à indústria de transformação um papel crucial e insubstituível na determinação do desempenho das economias modernas. Já tratamos neste espaço, em artigo anterior, do significado da Revolução Industrial. Vamos relembrar: "A ideia da Revolução Industrial como um momento crítico trata da constituição histórica de um sistema de produção e de relações sociais que subordina o crescimento da economia à sua capacidade de gerar renda, empregos e criar novas atividades. O surgimento da indústria como forma de produção apoiada no "sistema de maquinaria" e em fontes de energia inanimada internaliza o auto desenvolvimento do progresso técnico e impulsiona a divisão social do trabalho, engendrando diferenciações na estrutura produtiva e promovendo encadeamentos intra e intersetoriais. Além de sua permanente autodiferenciação, o sistema industrial deflagra efeitos transformadores na agricultura e nos serviços. A agricultura contemporânea, o chamado agronegócio, não é mais uma atividade "natural" e os serviços já não correspondem ao papel que cumpriam nas sociedades pré-industriais. A incansável diversificação do setor de serviços está umbilicalmente ligada à evolução tecnológica e organizacional da empresa industrial que avança na redução do tempo de trabalho socialmente necessário e na demanda de mão de obra extremamente qualificada. A incompreensão dos fatores que reconfiguram essas relações tem levado aos equívocos da "economia de serviços". O avanço da produtividade geral da economia não é imaginável sem a dominância do sistema industrial no desenvolvimento dos demais setores."
A Revolução Industrial não se esgotou nas transformações ocorridas na Inglaterra no fim do século XVIII, mas revolucionou, ao longo dos séculos XIX, XX e XXI suas próprias conquistas, ao introduzir importantes mudanças de natureza tecnológica, empresarial e organizacional, com reverberações na vida das sociedades e no redesenho da economia internacional.
Como afirmamos várias vezes em artigos anteriores, o Brasil desde os anos 80 sofre um processo de desindustrialização, com severas repercussões sobre o desempenho da economia. Na transição dos anos 70 para os 80 do século XX, o Brasil afastou-se das tendências da indústria global, ou seja, deixou de incorporar os novos setores e, portanto, as novas tecnologias da chamada Terceira Revolução Industrial. Falamos da informática, da microeletrônica, da química fina e da farmacêutica.







Luiz Gonzaga Belluzzo – Economista, consultor especial da Carta Capital; Júlio Sérgio Gomes de Almeida – Economista, ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda –   06.01.2014
IN Carta Capital.