sábado, 3 de janeiro de 2015

'Banir totalmente as doações de empresas não é viável'


  Bruno SPECK – “Muitos comentaristas tendem a entrar na onda de achar que as eleições no Brasil são escandalosamente caras. Eu acho que não, pelo tamanho da democracia e pelos cargos em disputa. O horário eleitoral gratuito é uma medida benéfica. Tudo que aumenta a competitividade e a possibilidade de os partidos se comunicarem com o cidadão - mesmo que isso seja ridicularizado e que todo mundo só pense no Tiririca - é bom, pela quantidade de informação que circula.
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Não tinha pouco conteúdo nessa campanha. Acho que tinha muito. O horário eleitoral permitiu acompanhar o esforço do governo de fazer um balanço sobre os últimos anos, e o esforço da oposição de desmontar esse balanço. Não vejo que a campanha não tenha sido informativa ou que não tenha correspondido a um formato benéfico para a democracia”.

Cristian Klein
A mistura explosiva das recentes revelações da Operação Lava-Jato e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que está prestes a declarar inconstitucionais as doações de empresas - a maioria na Corte já está formada, por 6 votos a 1 -, deverá implodir o sistema de financiamento de campanha eleitoral brasileiro. Nas palavras do cientista político Bruno Speck, da Universidade de São Paulo (USP), um dos maiores especialistas do país no assunto, o STF, numa medida radical, vai "chutar o balde". Fará, numa das frentes mais importantes, parte da reforma política que há décadas é debatida e sempre morre pela falta de consenso. Os magistrados, no entanto, indicarão o rumo menos recomendável. "Banir totalmente as doações de empresas é arriscado. Não é viável", alerta Speck.
Melhor saída seria a introdução de mudanças graduais, como o estabelecimento, de um lado, de tetos nominais para o financiamento das empresas, e de outro, para os gastos dos partidos. Um controle sobre a oferta e a demanda.
Como o STF derruba, veta, mas não tem a preocupação - ou atribuição - de pôr algo no lugar, será preciso redesenhar o novo financiamento. Speck sugere dois modelos. O primeiro é o canadense, pelo qual o cidadão faz pequenas doações aos partidos que são descontadas de seu imposto de renda. O segundo é o "matching funds", praticado nas primárias americanas, num sistema de doação casada, pelo qual, para cada dólar desembolsado pelo cidadão, o Estado põe outro dólar, até um limite que estimule muitas doações porém de baixo valor.
"Esses modelos dão poder de voz aos cidadãos, que decidem onde os recursos do financiamento público serão alocados", afirma. Para o cientista político, estas opções não só podem ajudar a limpar a corrupção como são oportunidade de aproximar os eleitores dos seus representantes e fortalecer o sistema partidário.
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Bruno Speck – Cientista político, professor da Universidade de São Paulo
Cristian Klein – 24.11.2014
IN Valor Econômico, ed. impressa.