A tendência de chamar desafetos de
'bolivariano' conta com a ignorância alheia. O termo precisa ser mais bem
definido antes de ser berrado a plenos pulmões. (...)
Bolívar é possivelmente o personagem
histórico mais complexo e de maior influência no imaginário político
continental. Sua obra é colossal. Além de liderar guerras de independência e de
exercer influência direta em pelo menos cinco dos atuais países da região –
Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia -, ele deixou vastíssima obra
escrita, constituída por artigos, cartas e discursos. (...) Bolívar teve sua
vida política marcada pela luta contra o colonialismo, pela república, pelo fim
da escravidão e pela defesa de um sistema de educação pública, entre diversas
outras iniciativas. Tendo visitado a França por três vezes na primeira década
do século XIX, foi fortemente influenciado por correntes iluministas e
antiabsolutistas.
Gilberto Maringoni
Depois de comunista e terrorista de um lado e de
coxinha de outro, epítetos que já entediavam a todos, a tendência do verão é
chamar os desafetos de “bolivariano”.
- O que quer dizer?
- Não sei muito bem, mas tá bombando.
- Estão querendo transformar o Brasil num País
bolivariano.
- Bolivariano? Transformar o Brasil na Bolívia?
- Não. Bolivariano, aquele troço do Chávez.
Aquele troço do Chávez precisa ser mais bem
definido, antes que se encha a boca para berrar “bolivariano!” a plenos
pulmões.
O que é ser “bolivariano”, termo que tanta repulsa
causa a Gilmar Mendes, ao infatigável deputado Eduardo Cunha e aos soberbos
editoriais do Estadão, que dia sim, dia não, botam o qualificativo
para ralar?
O presidente venezuelano Hugo Chávez não se cansava
de repetir: o ideário que movia seu governo era o legado político e histórico
de Simón Bolívar (1783-1830). O próprio nome do país foi alterado, a partir da
Constituição de 1999, para República Bolivariana da Venezuela.
Chávez não foi o único a reivindicar o personagem.
O nome de Bolívar foi apropriado por um sem número de lideranças e movimentos
políticos na América Latina nos quase 200 anos que nos separam de sua morte.
Seus seguidores estão espalhados pelas mais diversas vertentes do espectro
ideológico.
Até que ponto as apropriações de tal legado são
fiéis ao pensamento original do chamado Libertador?
(...)
Para
continuar a leitura, acesse http://www.cartacapital.com.br/politica/maldito-bolivariano-5234.html?utm_content=bufferc90e5&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer
Gilberto Maringoni - Professor de Relações Internacionais da UFABC autor
de A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de
Chávez (Editora Fundação Perseu Abramo) e ex-candidato a governador de SP
pelo PSOL – 07.11.2014
IN Carta Capital.