O argumento apresentado para
compatibilizar a gritante contradição é que não se trata de retirar direitos e
sim corrigir "distorções". Essa é a justificativa principal da
doutrina que, nas últimas décadas, dedicou-se de maneira sistemática a desmontar
o Estado de Bem-Estar Social onde ele existia e a impedir a construção do mesmo
onde era incipiente, caso do Brasil.
André Singer
Dilma
Rousseff encerrou a mensagem ao povo reunido para a sua segunda posse em
Brasília com um juramento. "Nenhum direito a menos, nenhum passo atrás, só
mais direitos e só o caminho à frente. Esse é meu compromisso sagrado perante
vocês."
No entanto,
três dias antes, o governo anunciou que cinco benefícios previdenciários
sofreriam cortes de R$ 18 bilhões. A tesoura vai cair sobre o
seguro-desemprego, o abono salarial, a pensão por morte, o auxílio-doença e o
seguro defeso (voltado para os pescadores). Todos de interesse direto dos
pobres. O montante subtraído equivale a cerca de 70% do gasto com o Bolsa
Família em 2014.
A desconexão
entre palavras e atos constitui perigosa sequência daquela produzida por uma
campanha à esquerda e a montagem de um ministério à direita. Em geral, o
chamado povão já tende a considerar que o universo dos políticos lhe é alheio.
Mas a ruptura de qualquer elo lógico entre o que se diz e o que se faz tende a
potencializar as reações de violento descrédito que virão quando o efeito real
das medidas começarem a ser sentidas na pele.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/202522-o-criterio-da-verdade.shtml
André Singer – Cientista
Político e Professor da FFLCH/USP – 03.01.2015
IN Folha de São Paulo.