segunda-feira, 25 de maio de 2015

O PT na conjuntura política brasileira



Paradoxalmente, os governos petistas promoveram mudanças sociais que ultrapassam sua capacidade de dialogar com os setores ascendentes. Os segmentos médios, em particular os emergentes, não reconhecem a centralidade das políticas capitaneadas pelo partido em sua melhora material – dão mais importância a seus méritos próprios. Noutros termos, o partido promove uma mudança que solapa suas próprias bases eleitorais e de legitimidade no médio prazo, pois é cada vez mais frágil junto aos setores médios de renda.


Cláudio Gonçalves Couto
Nas últimas duas décadas e, em particular, nos últimos doze anos, o país passou por mudanças estruturais do ponto de vista de sua estratificação social. elas alteraram as relações  de classe tradicionalmente estabelecidas e levaram a uma desorganização das referências antes postas. A considerável redução da pobreza e da desigualdade, bem como a ascensão de um considerável contingente de cidadãos a níveis médios de renda (sem que se possa chamá-los propriamente de “classes médias”) impactou significativamente o sistema de distinção social em vigor.
Com os emergentes ganhando acesso a bens e lugares antes exclusivos das camadas médias e altas estabelecidas, diluiu-se parcialmente uma distinção baseada nos padrões de consumo e acesso exclusivo a espaços privilegiados. Tal diluição provocou incômodo em segmentos dos setores estabelecidos, alimentando ressentimentos de algumas de suas parcelas e abrindo espaço para sua radicalização política – potencializada pelo discurso raivoso de certos publicistas da mídia tradicional e das novas mídias. As redes sociais engrossaram o fenômeno, pois formam uma sobopinião pública que reitera sentimentos e convicções.
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Cláudio Gonçalves Couto – Cientista Político professor da FGV/SP – 04.05.2015
IN O Estado de São Paulo.