quinta-feira, 28 de maio de 2015

Como nasce uma jabuticaba?


Em defesa da mudança de nosso sistema eleitoral circula um argumento tão falacioso quanto frequente, que afirma que o voto distrital aproxima o representante do eleitor. Supõe-se que, nesse sistema eleitoral, diferentemente do atual, o deputado federal faz o que seu eleitor quer que ele faça. Se não for assim, por estar próximo geograficamente, o eleitor tem maiores chances de trocar seu representante.

Antonio Carlos Almeida
Tornou-se uma convenção – por sinal, injusta – denominar jabuticaba tudo aquilo que só existe no Brasil. Quando se afirma que algo é uma jabuticaba, uma prática social ou um conjunto de leis, a referência é pejorativa. Se realmente for isso, peço perdão aqui figurativamente, aos pés de jabuticaba e à própria fruta, assim como àqueles que a apreciam, para solicitar aos leitores que observem como nasce uma jabuticaba. Isso mesmo. Temos o privilégio de ser testemunhas oculares, e históricas, do nascimento de uma jabuticaba institucional: a adoção do voto distrital em municípios com mais de 200 mil eleitores. Se isso acontecer, tratar-se-á de algo exclusivamente brasileiro.
Mais exclusiva é a adoção desse sistema logo depois das eleições gerais no Reino Unido, relaizadas na semana passada. Veja-se o que acabou de acontecer naquele país, que já foi um império, mas que vive uma decadência secular e ininterrupta: o Partido Nacional Escocês (SNP), recebeu 4,7% dos votos e conquistou 56 cadeiras no Parlamento, o que significa que elegeu 8,6% dos deputados. Ou seja, obteve 83% mais cadeiras do que votos. O outro lado da moeda foi o que aconteceu com o Partido Britânico da Independência (UKIP), votado por 12,6% dos eleitores, que conquistou somente uma cadeira. O voto distrital, considerando-se somente esses resultados – há muitos outros exemplos, muitos – leva a uma alocação praticamente aleatória quando se trata de relacionar a proporção de votos com a proporção de deputados eleitos. É isso que queremos no Brasil?
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Antonio Carlos Almeida – Sociólogo e professor universitário, autor de “Cabeça de Brasileiro” – 15.05.2015
IN Valor Econômico, ed. impressa.






Corrupção deve aumentar com distritão

ARGELINA – (As campanhas dos parlamentares) “vão ficar  mais caras, vai ter mais corrupção. O candidato vai atrás do dinheior, de quem tem possibilidade de financiar. Quem chegar com dinheiro ou com algum potencial de votos vai entrar nos partidos”.
(A agenda política desse congresso de ‘amadores’) “Vai ser péssima. Como discutir legislação, fazer para ter boa legislação? Não tem como atender interessses a não ser daqueles que têm dinheiro, para financiar campanha. O clientelismo pode3 voltar. Se um partido colocar três candidatos em um distrito, vai ter que diferenciá-los e, para isso, não basta só dinheiro. Terão promessas falsas”.

Cristiane Agostine
O “distritão”, se aprovado pelos deputados e sendadores, enfraquecerá os partidos, fortalecerá o poder econômico nas eleições e poderá transformar o Congresso em um aglomerado de “amadores”, sem vínculos partidários ou experiência política prévia. O alerta é da professora Argelina Figueiredo, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
A proposta, em discussão na Câmara, prevê que os mais votados nos diestritos sejam os eleitos e é patrocinada pelo vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer. Na avaliação de Argelina, a medida não deve ser aprovada em plenário. “A grande maioria dos deputados depende dos partidos para serem eleitos. Eles não têm voto próprio. Por que vão votar num sistema que depende do voto próprio?!”, questiona. Se o distritão for aprovado, diz, o baixo clero não estará mais no Congresso.
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Cristiane Agostine – Jornalista
Argelina Cheibub Figueiredo – Cientista Política – 14.05.2015
IN Valor Econômico, ed. impressa.



Distritão seria grande passo atrás na democracia

Para Jairo Nicolau, sistema já foi usado e abandonado no século XIX.
Jairo Nicolau – “É possível uma democracia como a nossa continuar com a doação de empresas para campanhas? Isso tem sido danoso para as eleições. Se tivesse que fazer uma única reforma no sistema representativo brasileiro, escolheria essa. Precisamos proibir que as empresas doem”.

Diego Viana
Para o cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o debate sobre a reforma política é obscuro, impreciso, mas ganharia muito se fosse concentrado em dois pontos: o modo de escolha dos parlamentares e o financiamento de campanha. “Melhorando a representação proporcional, acabando com as coligações, adotando uma nova lei de financiamento, coisas pequenas, poderiamos melhorar muito mais do que os céticos acreditam, mas não tanto quanto os otimistas radicais pensam”.
Nicolau vê problemas em ambos os pontos. O crescimento da proposta do chamado distritão lhe parece um retrocesso na democracia brasileira e considera improvável que o Congresso aprove o fim do financiamento empresarial das campanhas -, medida que julga urgente para pôr o paíse em linha com as principais democracias, como EUA e França.
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Diego Viana – Jornalista
Jairo Nicolau – Cientista Político da UFRJ – 15.05.2015
IN Valor Econômico, ed. impressa.