O brasileiro médio julga relevante o
papel do Estado na redução das desigualdades sociais. Esse reconhecimento é
aprovado especialmente pelos grupos de menor renda e nas regiões menos
desenvolvidas.
Não obstante, os valores do
individualismo e da meritocracia são amplamente compartilhados. A maioria
acredita que o salário é função da qualidade do trabalho e do grau de
responsabilidade na sua execução. Predomina a visão de que pobreza é falta de
esforço individual e isso significa responsabilizar os próprios pobres por sua
condição social.
O brasileiro médio não se mostra propenso
a apoiar políticas universais. Quem pode paga e quem não pode que fique com um
serviço público de segunda linha, defende a preocupante visão majoritária. A
maioria desaprova elevar impostos para oferecer mais saúde e educação gratuitas
e de qualidade.
Eduardo Fagnani
A hegemonia da doutrina neoliberal nas últimas
quatro décadas deixou como saldo o recrudescimento da desigualdade social em
escala global. Desregulamentação, abertura, privatização, redução do papel do
Estado e supressão de direitos trabalhistas, sindicais e sociais são algumas
facetas das reformas liberalizantes implantadas desde o fim dos anos 1970. Com
a crise financeira de 2008, essa agenda foi reforçada nos países centrais,
ampliando-se o padrão de desigualdade também nessas sociedades.
O oposto ocorreu na América Latina e no Brasil, que
apresentaram no início do século XXI uma trajetória de crescimento econômico
com inclusão social. No caso brasileiro, os impactos do crescimento na geração
de empregos, recuperação do valor real do salário mínimo e nas transferências
monetárias da seguridade social foram determinantes para a melhora das
condições de vida dos cidadãos. Esses fatores, associados aos programas de
combate à fome, contribuíram para milhões de pessoas saírem da pobreza extrema.
Nesse caso, o balanço é “surpreendente e impactante na década”. Entre 2002 e
2013, a pobreza extrema caiu de 9,3% para 3,6% da população total.
Qual é a percepção da população brasileira sobre a
redução da miséria e o declínio da desigualdade? A resposta está no livro Percepções
sobre Desigualdade e Pobreza. O que pensam os brasileiros da política
social? Trata-se de um denso trabalho de investigação coordenado por Lena
Lavinas, professora de Economia do Instituto de Economia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, com Alinne Veiga, Barbara Cobo, Fabio Waltemberg e
Yasmín Salazar Mendes, reconhecidos especialistas em políticas públicas.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.cartacapital.com.br/revista/827/preconceito-democratizado-2032.html
Eduardo Fagnani – Professor do Instituto de Economia da Unicamp e
coordenador da rede Plataforma Política Social (www.plataformapoliticasocial.com)
– 26.11.2014
IN Carta
Capital.