sábado, 28 de novembro de 2015

A política como ela é


quando um partido é governo, comporta­-se de um jeito, e quando é oposição pode vir a fazer justamente o oposto. Isso vale tanto aqui quanto nos Estados Unidos [e no Reino Unido]. Tudo isso faz com que as pessoas fiquem desiludidas pela política. Elas se desiludem em relação ao PT, se desiludem em relação ao PSDB, em relação aos republicanos, democratas, trabalhistas, conservadores, em relação a tudo que tenha a ver com a política. A verdade é que quem se desilude faz isso porque algum dia se iludiu.

Alberto Carlos de Almeida
Otto von Bismarck, o unificador da Alemanha, afirmou que as pessoas não poderiam dormir tranquilas se soubessem como são feitas as salsichas e as leis. A frase sugere algo muito importante e que, na maioria das vezes, é incompreendido por todas as pessoas, inclusive aqueles que não fazem política, mas precisam acompanhá­la de perto por causa da influência que ela exerce em suas vidas. Para fazer leis é preciso fazer política. É melhor que as pessoas não saibam como a política é feita, mas nem sempre isso é possível.
O PT e o PSDB vêm sendo muito criticados ultimamente por causa de suas incoerências. As críticas vêm de dentro dos próprios partidos ou mesmo de intelectuais, economistas e militantes ligados a cada um deles. Recentemente, a Fundação Perseu Abramo lançou um documento crítico à atual política econômica do governo Dilma, no qual afirma que as medidas econômicas implementadas neste ano, de ajuste fiscal, são a causa da recessão e da perda de empregos. Como se sabe, a geração de empregos é umas das mais importantes bandeiras do PT. Lula foi eleito em 2002 com o mote da geração de 10 milhões de empregos. Dilma foi reeleita em 2014 com um dos mais elevados níveis de emprego dos últimos tempos.
O PT não está sozinho nas supostas incoerências. Na semana passada, 50 deputados do PSDB votaram contra o veto da presidente ao projeto que acabava com o fator previdenciário. Seria uma incoerência, uma vez que essa medida foi obra do PSDB, durante o governo Fernando Henrique, e é fundamental para algo sempre defendido pelos tucanos, o equilíbrio fiscal. Não é a primeira vez, neste ano, que o PSBD vota, na Câmara, pela derrubada do fator previdenciário. Em ambos os episódios, no dia seguinte ao da votação, jornais e blogs foram inundados de artigos críticos à atitude do PSBD, a maioria deles escritos por pessoas ligadas ou simpáticas ao partido. Em todos os artigos, o argumento central era que o PSDB estaria jogando fora seu legado e abandonando seus valores.
Bismarck irmana-­se a Maquiavel na compreensão que tiveram da atividade política. Lamentavelmente, a popularização do pensamento de Maquiavel, aliás como quase toda popularização, diminuiu a profundidade de seus ensinamentos. Maquiavélico se tornou um adjetivo negativo: significa fazer o mal, ser dissimulado, falso, entre outras coisas. Quando o pensador italiano é citado pela grande mídia, aparecem citações como: Maquiavel disse que o mal tem de ser feito de uma só vez, e o bem aos poucos, ou ainda, segundo Maquiavel, é melhor ser temido do que amado. De novo, a visão superficial do que ele nos ensina é o que prevalece.
Maquiavel mostra, acima de tudo, que a política tem uma ética própria, que não coincide com a ética cristã. É difícil as pessoas entenderem e aceitarem isso.
(...)






Alberto Carlos Almeida – Cientista Político – 02.10.2015
IN Valor Econômico, ed. Impressa (Republicado no Blog Diálogos Políticos).