MACRI REPRESENTA A DIREITA TRADICIONAL ARGENTINA, COM GURUS ECONÔMICOS NEOLIBERAIS DUROS, COM POLÍTICA DE REPRESSÃO AOS MOVIMENTOS POPULARES, COM TODOS OS TRAÇOS CONSERVADORES NOS SEUS DOIS MANDATOS NA PREFEITURA DE BUENOS AIRES. APESAR DE QUE, QUANDO TINHA GRAVES RISCOS DE PERDER AS ELEIÇÕES NO PRIMEIRO TURNO, ASSUMIU A CONTINUIDADE DE VARIAS AÇÕES DO GOVERNO DE CRISTINA – SEUS PROGRAMAS SOCIAIS, A ESTATIZAÇÃO DE YPF E DE AEROLINEAS ARGENTINAS, ENTRE OUTROS -, OS 20 PONTOS DO SEU PROGRAMA DE GOVERNO COMEÇAM COM UMA FORTE POSTURA DE DIMINUIÇÃO DA AÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA.
Emir Sader
A poucos dias do segundo turno das eleições
presidenciais na Argentina, não é apenas uma especulação, mas uma possibilidade
real que a direita chegue a triunfar. Houve o debate de domingo à noite, ha
redefinições de quem votou em outros candidatos, resta a possibilidade de que a
intensa atividade militante a favor de Scioli e ainda a eventualidade de um
novo erro nas pesquisas.
Mas a possibilidade de que um presidente de
direita, duro e puro, como Mauricio Macri, se torne presidente da Argentina é,
preocupantemente, uma possibilidade real. O que isso significaria para a
Argentina e para a América Latina?
Os atuais presidentes dos países progressistas
na região tiveram vitorias com vantagens tranquilas no caso do Uruguai, do
Equador e da Bolívia, e com resultados muito estreitos, no caso da Venezuela e
do Brasil. Mas desta vez se trata da possibilidade real de uma derrota do
candidato apoiado por Cristina Kirchner e que representaria a continuidade dos
governos iniciados por Nestor Kirchner e continuados por ela.
Seria a primeira derrota de um governo
progressista na região, desde o triunfo de Hugo Chávez em 1998. Seria a quebra
da frente de seis governos sul-americanos, que atuam de forma coesa e com
programas de governos similares.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.brasil247.com/pt/blog/emirsader/205849/E-se-a-direita-ganhar-na-Argentina.htm
Emir Sader – Sociólogo – 19.11.2015
IN Brasil
247.
“Os
argentinos conseguiram fazer que os políticos tenham medo do povo”
Felipe Pigna – “Acredito que não [que a Argentina não
caminha para a adoção de um ajuste como o do Brasil]. Seria muito difícil,
porque as pessoas não aceitariam isso. Veja como o próprio candidato da direita
se preocupa em dizer que não irá tocar nos programas. Isso é uma vitória da
população, uma conquista dos argentinos. Como dizia Maquiavel, a única maneira
de levar os políticos a agirem como têm de agir é fazer com que tenham medo do
povo”.
Carlos E. Cué e Alejandro Rebossio
Felipe Pigna (Mercedes, Buenos Aires, 1959) é o
historiador mais conhecido da Argentina, com quase 600.000 seguidores no
Facebook, graças à sua capacidade de explicar a história de maneira simples e
atraente na televisão, com programas que obtém um sucesso gigantesco, como
“Algo habrán hecho” [Alguma coisa eles fizeram]. Para Pigna, que apoiou o kirchnerismo, o fator principal que tirou a Argentina da disputa que
chegou a ter em certo momento com os Estados Unidos pela primazia no continente
é a burguesia de seu país. Ele acredita, também, que agora deverá ocorrer uma
virada à direita.
Pergunta. De um
ponto de vista histórico, qual é o momento que vive hoje o seu país?
Resposta. Acredito
que a Argentina vive um momento muito importante, em que tem de escolher entre
duas alternativas: a continuidade com mudanças, que tem relação com a
postulação ideológica do candidato mais alinhado com a centro-direita; ou uma
volta aos anos 90. Scioli está
mais para a centro-direita dentro do peronismo; e o outro é um candidato de
direita clássico.
P. O que aconteceu
para que a Argentina, que ocupava um lugar de destaque internacional, tenha
caído tanto?
R. No
final do século XIX, começo do XX, o país era a quinta potência mundial e era
visto como um país rico, mas com essa riqueza sendo muito mal distribuída, Isso
gerou muitos conflitos sociais, que foram tornando a situação mais complicada.
Nossa burguesia é especialmente egoísta, e tinha uma enorme dificuldade para
entender que o setor industrial atuava a seu favor. A mentalidade conservadora
de 1880 era anti-industrial, diferentemente do que acontecia nos Estados
Unidos. Os dois países travavam uma disputa muito acirrada nos anos 80 e 90 do
século XIX. Discutiam de igual para igual. A burguesia argentina não soube
olhar para o futuro. Depois surgiu o peronismo, que significava um crescimento
com inclusão, mas a burguesia não o tolerou. Começou a haver, então, uma fuga
de capitais. O peronismo introduziu muitas pessoas ao mundo do consumo, incrementou
salários, mas os empresários argentinos, em vez de aumentar a produção,
aumentaram os preços das coisas. Escolheram o caminho mais fácil. Temos hoje
uma fuga de capitais que se aproxima dos 300 bilhões de dólares. Essa burguesia
multimilionária se deu bem quando o país ia bem e se deu bem, também, quando o
país ia mal. Tem uma grande capacidade de resistência, um controle muito forte
do poder, muito dinheiro, muito poder, que só viu crescer, inclusive nos
últimos anos. Não tem se dado nada mal.
(...)
Para continuar a leitura,
acesse http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/22/internacional/1445514462_009613.html#
Carlos E. Cué e Alejandro Rebossio – 23.10.2015
Felipe Pigna –
Historiador Argentino.
IN El País Brasil.
Na
eleição argentina, encruzilhada da América do Sul
Como latino-americano e marxista não posso ser
indiferente ante a ameaça que representa um eventual governo de Macri, que se
uniria imediamente à Álvaro Uribe, José M. Aznar e seus mentores
norte-americanos em sua persistente cruzada para erradicar da face da terra o
chavismo, os governos de Evo e Correa e para promover uma “mudança de regime”
em Cuba. Quer dizer, para liquidar definitivamente todo rastro de
anti-imperialismo na América Latina.
Ninguém genuinamente situado na esquerda política
poderia contemplar distraidamente esta possibilidade sem empenhar-se em
enfrentá-la com todas as forças. Desgraçadamente, chegado a este ponto, não
temos melhores opções que apoiar a FpV para espantar o risco de um mal maior,
sabendo, contudo, que se lograrmos triunfar neste empenho teremos a tarefa de
imediatamente construir uma verdadeira alternativa política de esquerda —
porque o kirchnerismo, com seus acertos, seus erros e suas limitações
ideológicas, não é e nem pode ser esta alternativa.
Atílio Boron
O resultado do primeiro
turno das eleições presidenciais na Argentina, no dia 25 de outubro, não foi um
raio em dia sereno. Um difuso mas penetrante mal estar social já vinha se
instalando na sociedade, em meio à crise geral do capitalismo, devido às
restrições econômicas impostas à Argentina com o esgotamento do boom
das commodities, e à tenaz ofensiva midiática para desestabilizar o
governo. Era apenas questão de tempo para que esta situação se expressasse no
terreno eleitoral.
Já nas eleições
primárias, realizadas em 9 de agosto, havia um sinal de alerta, mas que não foi
percebido e nem analisado pelos apoiadores do governo com o rigor requerido
pelas circunstâncias. Prevaleceu uma atitude que, para sermos benévolos,
poderíamos qualificar como “negacionista”, em que a autocrítica e a
possibilidade de fazer correções estiveram ausentes. As consequências,
estamos hoje lamentando.
Me concentrarei, nesta
breve análise, em alguns aspectos mais relacionados com a estratégia e a tática
de luta política adotada pela Frente para la Victoria – FpV [coalização formada
pelo governo da presidente Cristina Kirchner, em torno do candidato Daniel
Scioli) nestes últimos meses.
Deixo para outro momento
um balanço da experiência kirchnerista em sua integralidade e com suas
múltiplas contradições: renda básica paga segundo número de filhos
("asignación universal por hijo") e concentração empresarial;
extensão do regime de aposentaria e regressão tributária; desenvolvimento
científico e tecnológico (ARSAT I e II – satélites argentinos) e a substituição
dos cultivos tradicionais pelo plantio de soja na agricultura; orientação
latinoamericanista da política externa e a “estrangeirização” da economia. Já
disse coisas a este respeito no passado e não vem ao caso reiterá-las nesta
ocasião. Voltarei à este tema em textos futuros, sem a pressão do momento
atual.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.brasildefato.com.br/node/33478
Atílio Boron – Sociólogo argentino – 17.11.2015
IN Brasil de Fato.