Maria Hermínia Tavares – “Os politólogos brasileiros se dividem em dois ‘partidos’. Alguns
acreditam que, na redemocratização, escolhemos as instituições políticas
erradas e elas devem ser reformadas. Outros acham que não há problemas
fundamentais com as instituições do presidencialismo de coalizão. Pertenço a
esse último ‘partido’. Não creio que nossa crise tenha raízes nas instituições,
mas é sempre possível melhorá-las. A discussão sobre regras de financimEntO é
importante. Se fossem proibidas as coligações nos pleitos para a Câmara e
Assembleias estaduais, haveria uma redução saudável do número de legendas
representadas. Nosso sistema político é relativamente aberto à entrada de novos
grupos e isso é bom. É bom que Marina Silva possa organizar seu partido, que o
PSOL possa existir e que que [Jair]Bolsonaro tenha seu partido. Ninguém tem
incentivo para jogar contra o sistema. O presidencialismo de coalizão tem
custos altos: a coordenação da base do
governo não dispensa a negociação de cargos, que gera ineficiência. A formação
de governos de maioria de um partido é inviável e a porta está aberta para legendas
de aluguel. Mas não há evidências de que sistemas com menos partidos estejam
mais protegidos. Há estudos clássicos sobre a formação de máquinas partidárias
corruptas nos Estados Unidos. A força do nosso sistema é ser aberto à entrada
de novas forças, qualidade importante em um país tão vasto, disperso e desigual“.
Diego Viana
Os polos em que se
estrutura a disputa política no Brasil desde a redemocratização podem ser
abalados como resultado da atual crise política, segundo a cientista política
Maria Hermínia Tavares de Almeida, da Universidade de São Paulo e do Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). “Seria uma situação inteiramente
nova”, afirma.
Se, desde 1994, as
eleições nacinais tiveram, de um lado, as ideias liberais dos tucanos e, de
outro, o argumento social-democrata do PT, surge um espaço vazio deixado pela
erosão do campo petista, desmoralizado por escândalos de corrupção e cujo
eleitorado se sente traído. Já o PSDB, tradicionalmente o principal polo
aglutinador da oposição, ainda não soube apresentar uma mensagem à altura da
situação. Várias de suas lideranças se contantam em dialogar com a parcela da
população que tem ido às ruas contra o governo, mas esse contingente não
reflete o eleitorado brasileiro, segundo a cientista política. O descompasso
pode abrir espaço para forças populistas.
(...)
Para continuar a leitura e ler toda a entrevista, acesse http://www.valor.com.br/cultura/4251920/o-vazio-traz-seus-riscos
Maria Hermínia Tavares de Almeida – Cientista Política professora
da USP e pesquisadora do CEBRAP.
Diego Viana – 02.10.2015.
IN Valor Econômico, ed. Impressa.