sábado, 14 de novembro de 2015

O vazio traz seus riscos


Maria Hermínia Tavares – “Os politólogos brasileiros se dividem em dois ‘partidos’. Alguns acreditam que, na redemocratização, escolhemos as instituições políticas erradas e elas devem ser reformadas. Outros acham que não há problemas fundamentais com as instituições do presidencialismo de coalizão. Pertenço a esse último ‘partido’. Não creio que nossa crise tenha raízes nas instituições, mas é sempre possível melhorá-las. A discussão sobre regras de financimEntO é importante. Se fossem proibidas as coligações nos pleitos para a Câmara e Assembleias estaduais, haveria uma redução saudável do número de legendas representadas. Nosso sistema político é relativamente aberto à entrada de novos grupos e isso é bom. É bom que Marina Silva possa organizar seu partido, que o PSOL possa existir e que que [Jair]Bolsonaro tenha seu partido. Ninguém tem incentivo para jogar contra o sistema. O presidencialismo de coalizão tem custos altos:  a coordenação da base do governo não dispensa a negociação de cargos, que gera ineficiência. A formação de governos de maioria de um partido é inviável e a porta está aberta para legendas de aluguel. Mas não há evidências de que sistemas com menos partidos estejam mais protegidos. Há estudos clássicos sobre a formação de máquinas partidárias corruptas nos Estados Unidos. A força do nosso sistema é ser aberto à entrada de novas forças, qualidade importante em um país tão vasto, disperso e desigual“.

Diego Viana
Os polos em que se estrutura a disputa política no Brasil desde a redemocratização podem ser abalados como resultado da atual crise política, segundo a cientista política Maria Hermínia Tavares de Almeida, da Universidade de São Paulo e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). “Seria uma situação inteiramente nova”, afirma.
Se, desde 1994, as eleições nacinais tiveram, de um lado, as ideias liberais dos tucanos e, de outro, o argumento social-democrata do PT, surge um espaço vazio deixado pela erosão do campo petista, desmoralizado por escândalos de corrupção e cujo eleitorado se sente traído. Já o PSDB, tradicionalmente o principal polo aglutinador da oposição, ainda não soube apresentar uma mensagem à altura da situação. Várias de suas lideranças se contantam em dialogar com a parcela da população que tem ido às ruas contra o governo, mas esse contingente não reflete o eleitorado brasileiro, segundo a cientista política. O descompasso pode abrir espaço para forças populistas.
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Maria Hermínia Tavares de Almeida – Cientista Política professora da USP e pesquisadora do CEBRAP.
Diego Viana – 02.10.2015.
IN Valor Econômico, ed. Impressa.