[esta crise] é uma luta pela sobrevivência de diferentes grupos
políticos e diferentes facções dentro destes grupos, cada qual com seus
próprios embaraços com a corrupção, antes de ser uma luta pelo poder. Ou antes,
ela é uma luta pelo poder apenas na medida em que deter o poder oferece maiores
chances de sobrevivência. Ganhar o poder agora, no meio de uma crise
institucional, com um legislativo em pânico e uma economia em frangalhos, na
obrigação de negociar e executar um pacote de maldades que ninguém sabe quanto
tempo levaria para fazer efeito, não é grande vantagem – embora muitos na
oposição possam se atiçar com a ideia de aproveitar a situação para acelerar o
processo de desmanche de qualquer legado positivo dos governos do PT e da
própria Constituição de 88, processo que na prática já começou.
Rodrigo Nunes
A dita crise política – entenda-se: crise interna
à classe política – inicia-se com o triplo contexto de uma eleição altamente
agressiva e desagregadora, um quadro econômico negativo e uma guinada brusca na
sua condução, e a consequente queda de popularidade do Governo. A combinação
dos três fatores resulta, para a chamada base aliada, num aumento do custo
político de manter o apoio ao Governo; e portanto também, para o Governo, num aumento
do custo de manter este apoio – de onde que, literalmente desde seu início, o
Governo tenha agido para implementar uma agenda inteiramente diversa, e em
muitos pontos contrária, àquela com que se elegeu. Resulta igualmente que o impeachment, desde um primeiro momento,
passe a ser usado por todos, ora como ameaça, ora como chantagem.
Esta crise se caracteriza, primeiro, pela extrema
fragmentação dos interesses em jogo, e portanto também dos atores. É isto que a
torna duplamente intratável: porque dificulta enormemente a formulação,
execução e interpretação de estratégias; e porque isto, por sua vez, dificulta
enormemente a formação de blocos estáveis, quanto mais de um bloco capaz de se
impor aos demais.
Esta fragmentação decorre em grande parte de uma
segunda característica, que é o fato de que o risco de perder supera, nos
cálculos de todos, as vantagens de ganhar. Ela é uma luta pela sobrevivência de
diferentes grupos políticos e diferentes facções dentro destes grupos, cada
qual com seus próprios embaraços com a corrupção, antes de ser uma luta pelo
poder. Ou antes, ela é uma luta pelo poder apenas na medida em que deter o
poder oferece maiores chances de sobrevivência. Ganhar o poder agora, no meio
de uma crise institucional, com um legislativo em pânico e uma economia em
frangalhos, na obrigação de negociar e executar um pacote de maldades que
ninguém sabe quanto tempo levaria para fazer efeito, não é grande vantagem –
embora muitos na oposição possam se atiçar com a ideia de aproveitar a situação
para acelerar o processo de desmanche de qualquer legado positivo dos governos
do PT e da própria Constituição de 88, processo que na prática já começou. Mas
a vantagem real está em ter uma boa posição para tentar escapar ao vórtex da Lava Jato.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://brasil.elpais.com/brasil/2016/03/18/opinion/1458337238_631032.html
Rodrigo Nunes – Professor de Filosofia Moderna e Contemporânea na
PUC/RJ – 18.03.2016.
IN El País Brasil.