Meu
objetivo não é negar a existência de corrupção hoje. E muito menos comparar com
níveis anteriores. Mas argumentar que a corrupção não foi inaugurada nem
monopolizada pelo governo do PT. E se se pretende alguma efetividade no combate
à corrupção, é preciso não tratá-la como obra de um só partido ou governo, como
parece saber o povo que resiste e m ir às ruas. Por isso, "decepar",
por meio do impeachment, a cabeça do que chamou de "Estado-camarão",
como defende o autor citado acima, não me parece a solução para o problema. As
investigações atuais começam a se estender a membros de outros partidos e de
outros governos. Substituir a presidenta pelo seu vice certamente diminuiria o
conflito na elite política e, consequentemente, os escÂndalos, mas é muito pouco provável que diminua a corrupção. Diminuiria também a percepção de existência de corrupção. O que poderia ser útil, mas certamente seria falso.
Argelina Cheibub Figueiredo
Em
1994, em sua conferência no Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Ciência Sociais), o cientista político americano
Theodore Lowi expôs sua teoria sobre escândalos de corrupção. Escândalos de
corrupção, disse ele, decorrem de conflitos na elite política. Afirmou ainda
que escândalos de corrupção não tÊm relação com níveis de corrupção. Ou seja, o
tamanho do escândalo não tem nada a ver com o tamanho da corrupção, depende do
grau de dissenso na elite. Será que essa teoria se aplicaria ao caso do Brasil
recente? Vejamos.
Como
bem lembrou o cientista político e consultor Bolívar Lamounier no artigo
“Impeachment e reforma do Estado-camarão”, em “O Estado de S. Paulo”, de
31.01.2016, “em 1958, o jurista Raymundo Faoro colocou [o] tema [do
patrimonialismo] na agenda intelectual brasileira ao abordá-lo no livro ‘Os
donos do Poder’ – Formação do Patronato Político Brasileiro” (Ed. Globo, 1958).
Mas entre colocá-lo na agenda intelectual e conseguir que o ‘patronato
político’ referido no subtítulo da obra se decida a reformar ou a desmantelar
de vez tal sistema, vai evidentemente uma grande distância’. Se o conceito não
é de amplo conhecimento da população, o reconhecimento da existência de
práticas patrimonialistas nos governos e no estado brasileiro faz parte do
senso comum. E não é de hoje.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.valor.com.br/politica/4435512/conflito-na-elite-e-escandalos-de-corrupcao
Argelina Cheibub Figueiredo –
Professora de Ciência Política no Iesp-Uerj – 15.02.2016.
IN
Valor Econômico, ed. impressa.