sábado, 28 de maio de 2016

10 anos de chacinas da PM: a década em que a vingança substituiu a justiça e a democracia


A impunidade e o descaso das autoridades dez anos depois dos Crimes de Maio de 2006 contribuiram para produzir novos assassinatos e tragédias em bairros mais pobres do Brasil.

Bruno Paes Manso 
A vingança praticada por policiais em substituição à Justiça se repetiu ao longo desta década em bairros pobres da cidade, como Jardim São Luís, Jardim Rosana, Parelheiros, Sapopemba, na Metrópole e no Interior do Estado, em cidades como Guarulhos, Carapicuíba, Osasco e Campinas, migrando para outros estados brasileiros, como Paraná, Pará e Amazonas.
As vítimas foram assassinadas por morarem em bairros próximo aos locais onde os policiais foram atingidos, repetindo a solução aplicada em 2006. Seguem abaixo 15 casos de vingança que ocorreram ao longo desta década. São casos que revelam uma corporação que se sente vulnerável diante da ameaça de crime e que não parece acreditar na Justiça e nas instituições do Estado. O drama acaba sobrando para moradores indefesos de bairros pobres. Os casos de 2012 foram descritos nesta reportagem e em artigo de pesquisadoras publicados na Revista Brasileira de Segurança Pública.
Há dez anos, no dia 12 de maio, a transferência 765 presos para a Penitenciária II de Presidente Venceslau à véspera do Dia das Mães produziu diversos ataques praticados por criminosos ligados ao Primeiro Comando da Capital. Os atentados causaram a morte de 59 agentes públicos, entre policiais e agentes penitenciários. A resposta da polícia veio nos dias que se seguiram. Entre o dia 12 e o dia 21 de maio, 505 civis morreram por disparos de arma de fogo – 118 pessoas morreram em supostos confronto com a polícia, outros 138 morreram em execuções sumárias e 206 mortes ocorreram em circunstâncias desconhecidas. Em apenas dois casos envolvendo a morte de civis, houve punição para os assassinos, que eram policiais.
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Bruno Paes Manso – Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo – 10.05.2016.
IN A Ponte Jornalismo.




Promotores assinaram ofício de apoio à PM


Elaborado logo após os Crimes de Maio, quando a PM paulista se tornava suspeita de executar um dos piores massacres da história do Brasil, o ofício do Ministério Público era uma demonstração de apoio vinda justamente dos promotores que deveriam fiscalizar a ação dos policiais.


Fausto Salvadori
Em 25 de maio de 2006, 79 promotores criminais da cidade de São Paulo assinaram um ofício dirigido ao comandante geral da PM em que reconheciam “a eficiência da resposta da Polícia Militar, que se mostrou preocupada em restabelecer a ordem violada, defendendo intransigentemente a população de nosso Estado” e afirmavam que “eventuais excessos praticados individualmente” seriam apurados.
O documento foi enviado nove dias após o PM Alexandre André Pereira da Silva e outros cinco encapuzados entraram gritando “o comando é nóis” num lava-rápido da zona norte de São Paulo e executar três jovens. Dez dias após quatro homens encapuzados, identificados como policiais, atirarem na cabeça e na barriga de Ana Paula Gonzaga dos Santos, grávida de nove meses, em Santos (SP), e dizer “filho de bandido, bandido é”. E dez dias após o gari Edson Rogério Silva dos Santos ser morto, também em Santos, por cinco tiros que mancharam de sangue o holerite de trabalhador que levava no bolso.
Elaborado logo após os Crimes de Maio, quando a PM paulista se tornava suspeita de executar um dos piores massacres da história do Brasil, o ofício do Ministério Público era uma demonstração de apoio vinda justamente dos promotores que deveriam fiscalizar a ação dos policiais.
A atitude foi criticada no relatório "São Paulo sob Achaque" produzido pela Clínica Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Direito de Harvard em parceria com a ONG Justiça Global, em maio de 2011. O relatório afirma que os promotores falharam ao “não manter sua preciosa isenção no momento da crise, sinalizando à Polícia Militar que eles, promotores, já teriam concluído que não houve um revide policial orquestrado após os ataques”.
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Fausto Salvadori – 20.05.2016.
IN A Ponte Jornalismo.