A impunidade e o descaso das
autoridades dez anos depois dos Crimes de Maio de 2006 contribuiram para
produzir novos assassinatos e tragédias em bairros mais pobres do Brasil.
Bruno Paes Manso
A vingança praticada por policiais em substituição à Justiça se repetiu
ao longo desta década em bairros pobres da cidade, como Jardim São Luís, Jardim
Rosana, Parelheiros, Sapopemba, na Metrópole e no Interior do Estado, em
cidades como Guarulhos, Carapicuíba, Osasco e Campinas, migrando para outros
estados brasileiros, como Paraná, Pará e Amazonas.
As vítimas foram assassinadas por morarem em bairros próximo aos locais
onde os policiais foram atingidos, repetindo a solução aplicada em 2006. Seguem
abaixo 15 casos de vingança que ocorreram ao longo desta década. São casos que
revelam uma corporação que se sente vulnerável diante da ameaça de crime e que
não parece acreditar na Justiça e nas instituições do Estado. O drama acaba
sobrando para moradores indefesos de bairros pobres. Os casos de 2012 foram
descritos nesta reportagem e em
artigo de pesquisadoras publicados na Revista Brasileira de Segurança Pública.
Há dez anos, no dia 12 de maio, a transferência 765 presos para a
Penitenciária II de Presidente Venceslau à véspera do Dia das Mães produziu
diversos ataques praticados por criminosos ligados ao Primeiro Comando da
Capital. Os atentados causaram a morte de 59 agentes públicos, entre policiais
e agentes penitenciários. A resposta da polícia veio nos dias que se seguiram.
Entre o dia 12 e o dia 21 de maio, 505 civis morreram por disparos de arma de
fogo – 118 pessoas morreram em supostos confronto com a polícia, outros 138
morreram em execuções sumárias e 206 mortes ocorreram em circunstâncias
desconhecidas. Em apenas dois casos envolvendo a morte de civis, houve punição
para os assassinos, que eram policiais.
(...)
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Bruno Paes Manso – Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo – 10.05.2016.
IN A Ponte Jornalismo.
Promotores
assinaram ofício de apoio à PM
Fausto Salvadori
Em 25 de maio de 2006, 79 promotores criminais da cidade de São Paulo assinaram um ofício dirigido
ao comandante geral da PM em que reconheciam “a eficiência da resposta da
Polícia Militar, que se mostrou preocupada em restabelecer a ordem violada,
defendendo intransigentemente a população de nosso Estado” e afirmavam que
“eventuais excessos praticados individualmente” seriam apurados.
O documento foi
enviado nove dias após o PM Alexandre André Pereira da Silva e outros cinco
encapuzados entraram gritando “o comando é nóis” num lava-rápido da zona norte
de São Paulo e executar três jovens. Dez dias após quatro homens encapuzados,
identificados como policiais, atirarem na cabeça e na barriga de Ana Paula
Gonzaga dos Santos, grávida de nove meses, em Santos (SP), e dizer “filho de
bandido, bandido é”. E dez dias após o gari Edson Rogério Silva dos Santos ser
morto, também em Santos, por cinco tiros que mancharam de sangue o holerite de
trabalhador que levava no bolso.
Elaborado logo após os
Crimes de Maio, quando a PM paulista se tornava suspeita de executar um dos
piores massacres da história do Brasil, o ofício do Ministério Público era uma
demonstração de apoio vinda justamente dos promotores que deveriam fiscalizar a
ação dos policiais.
A atitude foi
criticada no relatório "São Paulo sob Achaque" produzido
pela Clínica Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Direito de
Harvard em parceria com a ONG Justiça Global, em maio de 2011. O relatório
afirma que os promotores falharam ao “não manter sua preciosa isenção no
momento da crise, sinalizando à Polícia Militar que eles, promotores, já teriam
concluído que não houve um revide policial orquestrado após os ataques”.
(...)
Fausto Salvadori – 20.05.2016.
IN A Ponte Jornalismo.