terça-feira, 31 de maio de 2016

Para além da crise política


[A "Primavera Feminista" e a "Primavera Secundarista"] São lutas que também não passam pelos canais tradicionais de mediação e representação políticas, como partidos e sindicatos. Além disso, a juventude se revela, por meio destas ações coletivas, altamente mobilizada, em sintonia com o que foi visto em Junho de 2013 e em oposição aos atos de rua contra e a favor do Governo Dilma. A presença das periferias também é gritante, principalmente no caso dos estudantes que ocuparam suas escolas – filhos das classes trabalhadoras tradicionais – e do Feminismo Periférico – mulheres jovens da “nova classe trabalhadora”, as primeiras de suas famílias a entrarem no Ensino Superior, mas que, em suas militâncias, se mantém leais aos territórios periféricos de onde vieram.
Trata-se das sementes de uma nova esquerda, que não se orienta nem pela defesa incondicional do Governo Dilma muito menos pelo seu impeachment. 

Jonas Medeiros
A crise política brasileira produz um vórtice que draga a tudo e a todos, encaixando-nos e limitando-nos a uma bipolarização forçada. Este rebaixamento do debate público e político é sintetizado pela dicotomia “coxinhas” versus “petralhas”. A sociedade brasileira não se resume, contudo, às mobilizações dos dias 13 e 18 de março de 2016. Pesquisas Datafolha realizadas em ambos os protestos mostram que seus públicos têm uma média de idade mais velha (45,5 e 38,9 anos), mais de 3/4 são universitários nos dois casos e mais da metade possui renda familiar superior a 5 salários mínimos (63% e 52%, sempre respectivamente). A juventude e as classes populares estão, de modo geral, subrepresentadas em ambas as manifestações, favoráveis e contrárias ao impeachment.
Desconsiderar estas ausências relativas contribui para a invisibilização de um rico processo que está em desenvolvimento (ao menos até o momento presente): a sociedade civil brasileira se encontra efervescente. É relevante atentar para esta efervescência pois, do contrário, não conseguimos identificar alguns dos principais focos de inovação social a partir dos quais estão emergindo lutas por direitos. Dois fenômenos são paradigmáticos de tais processos: as chamadas “primavera feminista” e a “primavera secundarista”.
Um dos catalisadores da “primavera feminista” foi o Projeto de Lei nº 5.069/2013, apresentado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e aprovado em outubro de 2015 na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. A proposta, conhecida como “o PL do estupro”, retira direitos das mulheres, dificultando o acesso ao aborto legal no caso de estupro. Rapidamente, ocorreu uma articulação de movimentos sociais organizados, grupos artísticos, novos coletivos e páginas de Facebook e milhares de mulheres (principalmente jovens) fizeram manifestações de rua, como as realizadas em São Paulo nos dias 30/10 e 12/11/2015 (e em outras cidades também).
Outros eventos além dos atos de rua também comprovam a vitalidade contemporânea dos movimentos feministas. De um lado, as campanhas virtuais #PrimeiroAssedio, #MeuAmigoSecreto e #NãoPoetizeOMachismo e a campanha digital e na imprensa tradicional #AgoraÉQueSãoElas. De outro lado, a primeira Marcha Nacional das Mulheres Negras realizada na história brasileira, no dia 18/11/2015 em Brasília, na qual compareceram entre 10 e 20 mil manifestantes.
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Jonas Medeiros – Doutorando em Educação na Unicamp e Pesquisador Associado do CEBRAP – 16.04.2016.
IN Jota.