[A "Primavera Feminista" e a "Primavera Secundarista"] São lutas que também não passam pelos canais tradicionais de mediação e
representação políticas, como partidos e sindicatos. Além disso, a juventude se
revela, por meio destas ações coletivas, altamente mobilizada, em sintonia com
o que foi visto em Junho de 2013 e em oposição aos atos de rua contra e a favor
do Governo Dilma. A presença das periferias também é gritante, principalmente
no caso dos estudantes que ocuparam suas escolas – filhos das classes
trabalhadoras tradicionais – e do Feminismo Periférico – mulheres jovens da
“nova classe trabalhadora”, as primeiras de suas famílias a entrarem no Ensino
Superior, mas que, em suas militâncias, se mantém leais aos territórios
periféricos de onde vieram.
Trata-se das sementes de uma nova esquerda, que não se orienta nem pela
defesa incondicional do Governo Dilma muito menos pelo seu impeachment.
Jonas Medeiros
A crise política brasileira produz um vórtice que draga a tudo e a todos,
encaixando-nos e limitando-nos a uma bipolarização forçada. Este rebaixamento
do debate público e político é sintetizado pela dicotomia “coxinhas” versus
“petralhas”. A sociedade brasileira não se resume, contudo, às mobilizações dos
dias 13 e 18 de março de 2016. Pesquisas Datafolha realizadas em ambos os protestos
mostram que seus públicos têm uma média de idade mais velha (45,5 e 38,9 anos),
mais de 3/4 são universitários nos dois casos e mais da metade possui renda
familiar superior a 5 salários mínimos (63% e 52%, sempre respectivamente). A
juventude e as classes populares estão, de modo geral, subrepresentadas em
ambas as manifestações, favoráveis e contrárias ao impeachment.
Desconsiderar estas ausências relativas contribui para a invisibilização
de um rico processo que está em desenvolvimento (ao menos até o momento
presente): a sociedade civil brasileira se encontra efervescente. É relevante
atentar para esta efervescência pois, do contrário, não conseguimos identificar
alguns dos principais focos de inovação social a partir dos quais estão
emergindo lutas por direitos. Dois fenômenos são paradigmáticos de tais
processos: as chamadas “primavera feminista” e a “primavera secundarista”.
Um dos catalisadores da “primavera feminista” foi o Projeto de Lei nº
5.069/2013, apresentado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e aprovado em
outubro de 2015 na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. A proposta,
conhecida como “o PL do estupro”, retira direitos das mulheres, dificultando o
acesso ao aborto legal no caso de estupro. Rapidamente, ocorreu uma articulação
de movimentos sociais organizados, grupos artísticos, novos coletivos e páginas
de Facebook e milhares de mulheres (principalmente jovens) fizeram
manifestações de rua, como as realizadas em São Paulo nos dias 30/10 e
12/11/2015 (e em outras cidades também).
Outros eventos além dos atos de rua também comprovam a vitalidade
contemporânea dos movimentos feministas. De um lado, as campanhas virtuais
#PrimeiroAssedio, #MeuAmigoSecreto e #NãoPoetizeOMachismo e a campanha digital
e na imprensa tradicional #AgoraÉQueSãoElas. De outro lado, a primeira Marcha
Nacional das Mulheres Negras realizada na história brasileira, no dia
18/11/2015 em Brasília, na qual compareceram entre 10 e 20 mil manifestantes.
(...)
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Jonas Medeiros – Doutorando em Educação na Unicamp e Pesquisador Associado do CEBRAP –
16.04.2016.
IN Jota.