Quem é, de onde veio e o que quer [Michel
Temer] o chefe do maior partido brasileiro e candidato a vice-presidente de
Dilma Rousseff.
(...)
[O
que ocorre com José de Alencar, vice de Lula] É bem o contrário do que ocorre
com Michel Temer. Ele não tem imagem pública definida. No máximo, é reconhecido
como um político profissional e anódino. No interior da política oficial,
porém, é considerado a encarnação do pantagruélico aparelho peemedebista. O
historiador Luiz Felipe de Alencastro chamou a atenção para um problema em
potencial do consórcio PT-PMDB. “Uma presidenciável desprovida de voo próprio
na esfera nacional, sem nunca ter tido um voto na vida, estará coligada a um
vice que maneja todas as alavancas do Congresso e da máquina partidária
peemedebista”, disse Alencastro. “É uma chapa de alguém que sabe tudo e tem sob
seu comando a maior bancada do Congresso, com alguém que vai começar a
aprender.” Acrescente-se que Dilma não tem ascendência sobre o PT.
Consuelo Diegues
O deputado Michel Temer, do PMDB, recebeu, em meados de abril de 1998,
um jovem advogado, cuja família conhecia de longa data, para um almoço na
residência oficial da presidência da Câmara dos Deputados. Mal haviam começado
a comer quando o rapaz criticou a nomeação do senador Renan Calheiros para o
Ministério da Justiça. “Não sei como o presidente Fernando Henrique pôde fazer
uma escolha tão desastrosa”, disse. Temer olhou com um pouco mais de interesse
o interlocutor e, sem alterar a expressão e a voz, respondeu: “O Renan foi
escolhido pelo PMDB; portanto, é uma escolha minha.” E levantou-se logo em
seguida, alegando que precisava dar um telefonema. Não voltou. Um mordomo pediu
ao moço que se retirasse, dizendo que Temer estava ocupado e não poderia continuar
o almoço. O PMDB é isso: lealdade.
Passados sete anos, Renan Calheiros chamou Temer ao seu gabinete. Era
uma conversa crucial para o deputado. Ele se lançara candidato à presidência da
Câmara pela segunda vez. Precisava do apoio do companheiro de partido, que
tinha ascendência sobre um grupo de parlamentares e era respeitado pelo governo
petista. O senador garantiu que diria ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva
que Temer era a escolha do PMDB. Naquela mesma noite, Temer soube que, na
reunião com Lula, ao invés do seu nome, Calheiros defendera o de seu principal
oponente: Aldo Rebelo, do Partido Comunista do Brasil. Com o apoio do Planalto,
o deputado do PCdoB elegeu-se presidente da Câmara. O PMDB é isso: traição.
Michel Temer chegou à presidência do partido no início de 2007. Pouco
depois, a jornalista Mônica Veloso trombeteou que tivera um affaire e uma filha
com Renan. Também revelou que quem pagava a pensão da criança, em dinheiro
vivo, em nome do senador, era a empreiteira Mendes Júnior. Parlamentares de
vários partidos entraram com um pedido de cassação de Renan, então presidente
do Senado. Temer marcou um jantar na casa do senador e, assim que entrou,
apertou a mão que o apunhalara e disse: “O PMDB não vai te abandonar.” Renan
teve que sair da presidência do Senado, mas o partido garantiu os votos que lhe
impediram a cassação. O PMDB é isso: reconciliação.
Na maior crise do governo Lula, a do mensalão – o esquema de compra de
votos de parlamentares em benefício do Planalto, que veio a se tornar público
em 2005 – o PMDB negociou o apoio ao presidente e mais que dobrou o seu plantel
de ministros, que passaram a ser cinco. Em 2007, numa reunião de cinquenta
minutos entre Michel Temer e Lula, o partido passou a integrar oficialmente o
governo. Em troca, levou mais dois ministérios e dezenas de cargos de direção
em empresas estatais. O PMDB é isso: fisiologismo.
(...)
Consuelo Diegues – Repórter da Revista Piaui – junho de 2010.
IN Revista Piaui, ed. 45.