Angela Alonso – “Procuro mostrar que o
movimento abolicionista teve impacto decisivo sobre o processo de abolição
porque fez uma campanha pública, organizada, nacional e contínua, por duas
décadas. Não é pouca coisa. Duas gerações de ativistas se envolveram. Eles não
deram sossego ao sistema político, pressionaram de todas as maneiras, com
eventos, publicações, processos judiciais, candidaturas parlamentares. Essas ações tiveram peso. (...)
Não se pode tributar tudo o que se passa hoje a essa herança [da forma como se deu a abolição da escravidão sem reformas mais estruturais]. Há mecanismos sociais que fazem com que a desigualdade se reproduza no presente. É preciso identificálos e combatê-los. A desigualdade não é um destino".
Márcio
Sampaio de Castro
No livro "Flores, Votos e Balas",
pesquisadora Angela Alonso destaca influência de pensadores sobre a opinião
pública O senso comum costuma atribuir o ocaso da escravidão no Brasil, nas
décadas finais do século XIX, à emergência mundo afora de um capitalismo mais
sofisticado, incompatível com o trabalho servil. Mais comum ainda é atribuir a
abolição a um gesto de vontade palaciano endossado pela caneta da princesa
Isabel (1846-1921). Recentemente, uma vertente da historiografia promoveu um
resgate da memória dos levantes e fugas de negros escravizados, atribuindo-lhes
um papel significativo para o esgotamento daquele sistema.
Em um momento de aparente desencanto com a política
nacional e mobilizações populares, como as de junho de 2013 e as
pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff do início deste ano, a professora
do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e presidente do
Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), Angela Alonso,
procura demonstrar que um vigoroso movimento social esteve por trás dos debates
e embates políticos que culminaram com a promulgação da Lei Áurea em 13 de maio
de 1888.
Em seu novo livro, "Flores, Votos e Balas - O
Movimento Abolicionista Brasileiro (1868- 88)" (Companhia das Letras, 568
págs., R$ 66,90), Angela destaca
o papel que figuras como Luís Gama (1830-1882), José do Patrocínio (1854-
1905), André Rebouças (1838- 1898) e Joaquim Nabuco (1849-1910), entre outros,
tiveram nas articulações que paulatinamente convenceram a opinião pública de
que o instituto da escravidão não pertencia à ordem natural das coisas, mas se
constituía em uma abominação no fim daquele século de tantos progressos.
Na entrevista a seguir, a autora fala sobre a importância desse tipo de
organização em momentos decisivos para a história do país.
(...)
Para
continuar a leitura e ler toda a entrevista, acesse http://www.valor.com.br/cultura/4341512/o-nascimento-do-brasil-moderno
Márcio
Sampaio de Castro – 04.12.2015
Angela
Alonso – professora do Departamento de Sociologia da
Universidade de São Paulo e presidente do Cebrap.
In Valor Econômico, ed. Impressa.