terça-feira, 24 de maio de 2016

Fim do MinC: retrocesso histórico


Os governos do PT foram de inegável liberdade de expressão, mesmo os críticos reconhecem.
Ninguém foi perseguido por ter opiniões contrárias ao governo e a democracia foi plenamente respeitada. Artistas de todas as visões ideológicas tiveram acesso aos apoios, aos fundos e à Lei Rouanet. Seu orçamento cresceu comparativamente, indo muito além de gerir a lei de incentivos fiscais. O MinC passou a incentivar a diversidade cultural, a dialogar com os projetos indígenas, a realizar centenas de editais, e regular a economia do audiovisual e dos direitos autorais. O duro retrocesso, no primeiro mandato de Dilma, gerou grande comoção política, levando ao acertado retorno de Juca ao MinC no segundo mandato.
O que se destrói num decreto, demora-se muitas vezes uma década para reconstruir. O acúmulo de uma organização, seja pública ou privada, leva enorme tempo para se (re)construir.

 

 

Alfredo Manevy
Ao que parece eliminar o Ministério da Cultura já se confirma como um dos primeiro atos do governo Temer… sem debate ou consulta, uma canetada promove hoje um retrocesso de 30 anos. O Ministério da Cultura foi criado em 1985 no calor da redemocratização do Brasil, e teve entre seus primeiros Ministros Celso Furtado. Furtado, aliás, não reconheceria esse PMDB de hoje – visto que enxergava na cultura a base de um novo tipo de modelo de desenvolvimento para o Brasil, mais amplo e generoso.
O Ministério da Cultura foi uma conquista da sociedade brasileira que saía de 20 anos de ditadura e, de certa forma, sinalizava o início de um acerto de contas do Estado brasileiro com seu passado autoritário. Na ditadura, a cultura era exatamente subordinada à educação. Era coerente com o interesse de controle e doutrina sobre a vida cultural brasileira. Felizmente, a ditadura não conseguiu controlar a cultura, que fez a diferença na resistência política ao regime.
A diluição das políticas culturais no Ministério que zela constitucionalmente pelos gigantes problemas educacionais brasileiros virá na contramão das grandes democracias mundiais e será um baque profundo: terá impacto especialmente para a produção cultural brasileira, dos grandes centros, do interior, em todas as regiões. Haverá impacto para todas as linguagens artísticas, para as políticas de leitura, patrimônio cultural, e nas populações quilombolas, indígenas, que passaram a se relacionar com o MinC na última década. Para as políticas de valorização da diferença e respeito às liberdades religiosas e comportamentais.
(...)








Alfredo Manevy – Diretor-Presidente da SPCine, é Doutor em Audiovisual pela USP e foi Secretário Executivo do Ministério da Cultura (2008-2010) – 12.05.2016.
IN Cultura e Mercado.