Para os
direitos humanos, o desastre é total. Além do rebaixamento de ministérios, o
grupo que chega ao poder traz uma armada de projetos que sonha dinamitar tudo
que se construiu desde 1988. (...)
Para piorar,
nessa situação de crise, as duas forças que seriam cruciais para garantir o
espaço democrático dão mostras de total conivência com a degradação em curso. O
Judiciário alterna omissão e intervenções deliberadas em favor do pacto
elitista. A grande mídia dispensa qualquer análise crítica, pois abraçou e
adulou o golpe desde o primeiro dia.
Paulo Sérgio Pinheiro
O Congresso que derrubou a presidenta Dilma Roussef agora deita e rola na
condição de herdeiro solitário do Poder Executivo. Uma tragédia anunciada para
todos que defendem a democracia no Brasil. Deter este processo de rápida
degradação institucional não pode ser mais visto como um objetivo da esquerda
ou de um partido; é uma questão de princípios para quem acredita na democracia.
Se alguém tinha dúvidas sobre a má-fé e os objetivos reais do impeachment,
os primeiros dias de governo do presidente interino foram muito didáticos. O
impeachment foi um sórdido pacto de conspiração para fuga da justiça de muitos
que operaram sempre à revelia da lei. Também foi visto como melhor caminho para
passar reformas que jamais teriam apoio popular e liquidar os direitos conquistados
na esteira da constitucionalidade de 1988.
Por isso a situação é tão grave. Estamos no pior dos mundos. Um bando de
gangsters políticos, que jamais saiu do poder nas três décadas de democracia,
vendeu ao ‘establisment’ econômico que o apoiou a tramoia insana de derrubar
uma presidenta pela acusação bizarra de pedaladas fiscais, que jamais
constituíram um crime de responsabilidade. Por meio de um processo viciado
presidido por um criminoso, réu em vários processos, com a benevolência do
Supremo, que a tudo assistiu num obsequioso silêncio, somente quebrado ao suspender
de suas funções o Presidente da Câmara dos Deputados, quando o golpe do
impeachment já estava ultimado.
(...)
Para
continuar a leitura, acesse http://www.diplomatique.org.br/edicao_mes.php (ou em http://diplomatique.org.br/artigo.php?id=2130)
Paulo Sérgio Pinheiro – Sociólogo, Professor da USP, foi membro da Comissão Nacional da
Verdade e Ministro da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos no governo
Fernando Henrique Cardoso – junho de 2016.
IN Le Monde Diplomatique (da série Em defesa dos direitos conquistados).