segunda-feira, 18 de julho de 2016

Quem disse que a bandidagem não tolera estuprador?


Crença de que o crime organizado combateria a cultura do estupro é falsa, afirma a socióloga Camila Nunes Dias. “PCC e Comando Vermelho são machistas e homofóbicos”, diz.

Fausto Salvadori Filho
“Homem é homem, mulher é mulher. Estuprador é diferente, né? Toma soco toda hora, ajoelha e beija os pés, e sangra até morrer na rua dez.” Os versos do rap Diário de um Detento, dos Racionais, um dos mais conhecidos do hip hop nacional, ajudaram a espalhar a crença de que o crime organizado instalado nas comunidades e prisões seria inimigo dos estupradores. Uma noção que entrou em xeque, nesta semana, com a notícia de que traficantes do Morro do Barão, na zona oeste do Rio de Janeiro, ligados ao Comando Vermelho, teriam ameaçado de morte não os suspeitos de praticarem um estupro coletivo, mas a vítima do crime – uma adolescente de 16 anos.
Até policiais usaram a falta de ação do crime organizado contra os suspeitos como justificativa para dizer que a adolescente teria inventado o estupro – apesar de o crime ter sido registrado em vídeo divulgado nas redes sociais. “Bandido de facção nenhuma aceita o estupro por uma razão muito simples: enquanto ele está preso a família dele está na rua, mãe, esposa, filha, irmã”, disse um majorda PM carioca.
Para entender a relação entre o crime organizado e a cultura do estupro, a Ponte Jornalismoentrevistou a socióloga Camila Nunes Dias, professora da UFABC (Universidade Federal do ABC), pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP), uma das principais estudiosas do crime organizado no Brasil, autora do livro PCC: hegemonia nas prisões e monopólio da violência(Saraiva, 2013). Para Camila, facções como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho repudiam apenas alguns tipos de estupro, mas aceitam outros. “São profundamente conservadores, machistas e homofóbicos”, afirma. E diz mais: por mais que se matem uns aos outros, policiais e bandidos têm visões de mundo muito parecidas.
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Para continuar a leitura, acesse http://ponte.org/crime-organizado-estupro/







Fausto Salvadori Filh0 – 03.06.2016.
Camila Nunes Dias – Socióloga e Professora da UFABC.
IN Ponte Jornalismo: Direitos Humanos, Justiça, Segurança Pública.