Crença
de que o crime organizado combateria a cultura do estupro é falsa, afirma a
socióloga Camila Nunes Dias. “PCC e Comando Vermelho são machistas e
homofóbicos”, diz.
Fausto
Salvadori Filho
“Homem é homem, mulher é mulher. Estuprador é
diferente, né? Toma soco toda hora, ajoelha e beija os pés, e sangra até morrer
na rua dez.” Os versos do rap Diário de um Detento, dos Racionais, um dos mais conhecidos do
hip hop nacional, ajudaram a espalhar a crença de que o crime organizado
instalado nas comunidades e prisões seria inimigo dos estupradores. Uma
noção que entrou em xeque, nesta semana, com a notícia de que traficantes
do Morro do Barão, na zona oeste do Rio de Janeiro, ligados ao Comando
Vermelho, teriam ameaçado de morte não os suspeitos de
praticarem um estupro coletivo, mas a vítima do crime – uma adolescente de 16
anos.
Até policiais
usaram a falta de ação do crime organizado contra os suspeitos como
justificativa para dizer que a adolescente teria inventado o estupro –
apesar de o crime ter sido registrado em vídeo divulgado nas redes
sociais. “Bandido de facção nenhuma aceita o estupro por uma razão muito
simples: enquanto ele está preso a família dele está na rua, mãe, esposa,
filha, irmã”, disse um majorda PM carioca.
Para entender a
relação entre o crime organizado e a cultura do estupro, a Ponte Jornalismoentrevistou a socióloga Camila Nunes Dias, professora da UFABC (Universidade Federal do
ABC), pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP), uma das
principais estudiosas do crime organizado no Brasil, autora do livro PCC:
hegemonia nas prisões e monopólio da violência(Saraiva, 2013). Para Camila,
facções como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho
repudiam apenas alguns tipos de estupro, mas aceitam outros. “São profundamente
conservadores, machistas e homofóbicos”, afirma. E diz mais: por mais que se
matem uns aos outros, policiais e bandidos têm visões de mundo muito parecidas.
(...)
Fausto
Salvadori Filh0 – 03.06.2016.
Camila
Nunes Dias – Socióloga e
Professora da UFABC.
IN Ponte Jornalismo: Direitos Humanos,
Justiça, Segurança Pública.