quinta-feira, 28 de julho de 2016

A Rouanet sob fogo cruzado


Uma das principais acusações à Lei Rouanet é que ela não representa uma verdadeira parceria entre Estado e iniciativa privada, já que a última se beneficia com 100% de renúncia fiscal. Os maiores investidores são grandes empresas do Centro-Sul do país, responsáveis, em média, por 75% do incentivo – São Paulo tem 45% da captação. Essa foa a justificativa para o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira (governos Lula e Dilma) enviar para o Congresso um texto de reforma da legislação, chamado de Procultura. Ferreira considera a lei extremamente concentrada e “imperfeita” e diz que, além de não estimular a contrapartida, coloca na mão dos departamentos de marketing das empresas a decisão sobre que tipos de projeto serão aprovados, e isso, na sua visão, seria uma distorção.

Jotabê Medeiros
A Lei Rouanet é a principal ferramenta de financiamento da cultura do Brasil. Após 25 anos de existência, ainda não surgiu um sistema mais efeitvo para substituí-la. Entre 2010 e 2014, foram injetados R$6,36 bilhões nos diferentes segmentos culturais por meio do incentivo fiscal da lei, além de R$1,16 bilhão pelo Fundo Nacional de Cultura, totalizando R$7,52 bilhões.
É uma legislação de notória incapacidade na tarefa de fomentar a cultura do país – só 5% dos seus recursos chegam ao Nordeste, por exemplo. Ao mesmo tempo, a Rouanet financia desde projetos culturais na região do Cariri cearense e pernambucano a documentários sobre sítios arqueológicos do Piaui; de mostras de arte na avenida Paulista a todo teatro musical ao estilo Broadway; de leituras poéticas do Bar do Zé Batidão, no Capão Redondo (zona sul de São Paulo), até a Fupp, feira literária realizada nas favelas do Rio.
Ainda assim, a Rouanet encontra-se no meio de grande fogo cruzado neste momento. Na Câmara dos Deputados, mais de 200 parlamentares assinaram o protocolo para a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lei Federal de Incentivo à Cultura, que vai investigar desfios em seu uso. "A CPI vai ser instalada, é a primeira da fila. Estamos esperando encerrarem a CPI do CARF [Conselho Administrativo de Recursos Fiscais] para começar", diz o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), propositor da comissão.
Em outra frente, a Operação Boca-Livre, ação da Polícia Federal, desbaratou na semana passada a ação de um grupo acusado de ter lesado o incentivo fiscal em cerca de R$180 milhões. 
(...)




Jotabê Medeiros – 08.07.2016.
IN Valor Econômico, caderno Eu & fim de semana (Republicada em AESP).