sábado, 30 de julho de 2016

O golpe de Estado contra os direitos

 

Para os direitos humanos, o desastre é total. Além do rebaixamento de ministérios, o grupo que chega ao poder traz uma armada de projetos que sonha dinamitar tudo que se construiu desde 1988. (...)

Para piorar, nessa situação de crise, as duas forças que seriam cruciais para garantir o espaço democrático dão mostras de total conivência com a degradação em curso. O Judiciário alterna omissão e intervenções deliberadas em favor do pacto elitista. A grande mídia dispensa qualquer análise crítica, pois abraçou e adulou o golpe desde o primeiro dia.

 

Paulo Sérgio Pinheiro
O Congresso que derrubou a presidenta Dilma Roussef agora deita e rola na condição de herdeiro solitário do Poder Executivo. Uma tragédia anunciada para todos que defendem a democracia no Brasil. Deter este processo de rápida degradação institucional não pode ser mais visto como um objetivo da esquerda ou de um partido; é uma questão de princípios para quem acredita na democracia.
Se alguém tinha dúvidas sobre a má-fé e os objetivos reais do impeachment, os primeiros dias de governo do presidente interino foram muito didáticos. O impeachment foi um sórdido pacto de conspiração para fuga da justiça de muitos que operaram sempre à revelia da lei. Também foi visto como melhor caminho para passar reformas que jamais teriam apoio popular e liquidar os direitos conquistados na esteira da constitucionalidade de 1988.
Por isso a situação é tão grave. Estamos no pior dos mundos. Um bando de gangsters políticos, que jamais saiu do poder nas três décadas de democracia, vendeu ao ‘establisment’ econômico que o apoiou a tramoia insana de derrubar uma presidenta pela acusação bizarra de pedaladas fiscais, que jamais constituíram um crime de responsabilidade. Por meio de um processo viciado presidido por um criminoso, réu em vários processos, com a benevolência do Supremo, que a tudo assistiu num obsequioso silêncio, somente quebrado ao suspender de suas funções o Presidente da Câmara dos Deputados, quando o golpe do impeachment já estava ultimado.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.diplomatique.org.br/edicao_mes.php (ou em http://diplomatique.org.br/artigo.php?id=2130)





Paulo Sérgio Pinheiro – Sociólogo, Professor da USP, foi membro da Comissão Nacional da Verdade e Ministro da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos no governo Fernando Henrique Cardoso – junho de 2016.
IN Le Monde Diplomatique (da série Em defesa dos direitos conquistados).