Luiz
Eduardo SOARES – “Nossos
liberais apoiaram a escravidão e as ditaduras. Hoje, são proibicionistas,
justificam a violência policial e toleram nosso sistema penitenciário. Resumem
seu liberalismo à economia, mesmo assim apenas enquanto seus interesses não
estão em risco. Caso contrário, fogem do mercado e se escondem sob as asas do
BNDES. A maioria de nossos liberais pensa que direitos humanos é bandeira da
esquerda — mesmo que os teóricos da esquerda a considerem liberal e só a
aceitem taticamente, como recurso provisório para acumular forças e isolar “os
inimigos de classe”. Enquanto não houver um centro ideológico-político liberal,
que abrace as causas que deveriam ser as suas, como a equidade, enquanto a
crítica à violência policial permanecer monopólio da esquerda, o destino das
denúncias será o gueto, o isolamento político e a impotência para promover
mudanças. E a brutalidade institucionalizada contra negros e pobres persistirá,
pulverizando a lealdade popular ao Estado democrático de direito”.
Luiz Eduardo Soares
Mestre
em Antropologia, doutor em Ciência Política e pós-doutor em Filosofia Política,
Luiz Eduardo Soares é um dos grandes críticos da violência institucional no
Brasil. Ex-secretário nacional de Segurança Pública (em 2003) e ex-coordenador
de Segurança, Justiça e Cidadania do Estado do Rio de Janeiro (de 1999 a março
de 2000), também é coautor dos livros que deram origem aos dois filmes Tropa de
Elite.
Nesta
entrevista, Soares, que está lançando seu livro mais recente, Rio de
Janeiro: Histórias de Vida e Morte, pela Companhia das Letras, comenta as
dificuldades de mudar a cultura de brutalidade no Brasil, o divórcio entre
medidas políticas bem-intencionadas e a realidade cotidiana da atuação policial
e o que pode ser feito para mudar um cenário em que a sociedade clama por
soluções violentas.
Zero Hora – O que o caso da chacina da grande São Paulo, apontado como uma
vingança policial, diz sobre o Brasil atual?
Luiz Eduardo Soares – Mais
do que diz, grita a plenos pulmões que estacionamos na barbárie, no que diz
respeito à relação do Estado com os grupos sociais que habitam os territórios
mais vulneráveis. Casos como esse não são isolados, conforme sugerem algumas
autoridades. Eles pontuam com um banho de sangue mais extravagante e ostensivo
a rotina das execuções extrajudiciais, perpetradas por policiais, que continuam
a ocorrer em todo o país. A tradição dos esquadrões da morte, dasscuderies e
das milícias persiste, resistindo à promulgação da Constituição. A lógica
perversa da vingança engata, entre si, as facções criminosas e os segmentos
policiais que recusam a regência da legalidade, e faz derramar sobre a
sociedade o veneno da brutalidade letal. A persistência só tem sido possível
porque as vítimas têm cor, classe social e endereço específicos. Se as marés de
sangue banhassem as camadas médias da população, já se teria dado um basta a
este horror.
(...)
Para continuar a leitura e ler toda a entrevista, acesse http://m.zerohora.com.br/329/proa/4831005/luiz-eduardo-soares-estacionamos-na-barbarie
Luiz Eduardo Soares –
Sociólogo – 22.08.2015.
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