em decorrência da crise econômica, da Lava Jato e
da presença de Eduardo Cunha à frente da Câmara, abriu-se uma tripla janela de
oportunidade. Michel Temer enxergou a chance de chegar ao poder. Os partidos
conservadores vislumbraram a possibilidade de arruinar o PT, talvez para
sempre. Os capitais viram a oportunidade de fazer um acerto de contas com os
avanços sociais previstos desde 1988 e postos em prática, no ritmo homeopático
conhecido, pelo lulismo.
Por isso, a provável condenação de Dilma representa
muito mais do que a perda de dois anos de estadia no Alvorada pela atual
mandatária. Significa um golpe profundo contra a alma cidadã da Carta
constitucional vigente.
André Singer
O julgamento de
Dilma Rousseff, cujo início efetivo teve lugar nesta quinta (25), no
Senado, é mais importante pelo que oculta do que pelo que revela. A observância
meticulosa dos dispositivos legais do processo faz parecer que tudo funciona de
modo normal. Mas, por baixo da capa de legalidade, está em curso um atentado,
que pode ser mortal, ao espírito da Constituição de 1988.
Os que têm paciência de acompanhar os debates entre a defesa e a acusação
percebem que o tema de fundo é a política econômica desenvolvida pela
presidente afastada no seu primeiro mandato. Os questionados decretos de
suplementação orçamentária e pagamento do Plano Safra pelo Banco do Brasil,
ambos de 2015, são meros pretextos para trazer à tona aquilo que realmente
incomoda: os gastos de 2014.
Ocorre que tal conduta foi referendada nas urnas. Dilma acabou reeleita
porque, apesar dos pesares, manteve o emprego e a renda dos trabalhadores, e
isso não teria acontecido caso houvesse feitos os cortes que a ortodoxia
econômica propunha. O fato de ter depois realizado o ajuste recessivo exigido,
quando prometera não fazê-lo, é grave, mas não justifica o impeachment.
(...)
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André Singer – Cientista Político, Professor da USP – 27.08.2016.
IN Folha de São Paulo.