sexta-feira, 2 de setembro de 2016

A condenação de uma governanta digna e inocente por um bando de corruptos


O método usado antes contra Vargas e Jango foi agora retomado com o mesmo pretexto: “de combater a corrupção” - na verdade, para ocultar a própria corrupção. Os golpistas usaram o Parlamento no qual 60% estão sob acusações criminais e desrespeitaram os 54 milhões de votos que elegeram Dilma Rousseff.

Leonardo Boff
Era uma vez uma nação grande por sua extensão e por seu povo alegre, embora injustiçado. Em sua maioria, sofria na miséria, nas grandes periferias das cidades e no interior profundo. Por séculos era governado por uma pequena elite do dinheiro que nunca se interessou pelo destino do povo pobre. No dizer de um historiador mulato, ele foi socialmente “capado e recapado, sangrado e ressangrado”.
Mas lentamente esses pobres foram se organizando em movimentos de todo tipo, acumulando poder social e alimentando um sonho de outro Brasil. Conseguiram transformar o poder social num poder político. Ajudaram a fundar o Partido dos Trabalhadores. Um de seus membros, sobrevivente da grande tribulação e torneiro mecânico, chegou a ser presidente. Apesar das pressões e concessões que sofreu dos endinheirados nacionais e transnacionais, conseguiu abrir uma significativa brecha no sistema de dominação permitindo-lhe fazer políticas socias humanizadoras. Uma Argentina inteira saíu da miséria e da fome. Milhares conseguiram sua casinha, com luz e energia. Negros e pobres tiveram acesso, antes impossível, ao ensino técnico e superior. Mais que tudo, porém, sentiram resgatada sua dignidade sempre negada. Viram-se parte da sociedade. Até podiam, em prestações, comprar um carrinho e até tomar o avião para visitar parentes distantes. Isso irritou a classe média, pois esta via seus espaços ocupados. Daí nasceu a discriminação e o ódio contra eles.
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Leonardo Boff – Teólogo, Professor de Ética na UERJ e escritor – 25.08.2016.
IN Brasil de Fato.