Advogado, Haddad produziu ações que não manipulam betoneiras, e sim
leis, atuando sobre as formas de uso da cidade. Trata-se de um político de
outro tipo, com uma visão urbana estratégica e cirúrgica.
Com poucos recursos, criou não apenas faixas exclusivas de ônibus e
de bicicletas -abriu avenidas ao uso dos pedestres, criou 150 linhas de ônibus
noturnos e 120 praças com wi-fi livre.
(...)
É fato que Haddad não se pautou por medidas eleitoreiras, muito ao
contrário, e talvez pague o preço político disso. Mas, para além ou para aquém
da cegueira ideológica do momento, produziu uma cidade com novos valores,
orientada pelos interesses coletivos e pela ética do compartilhamento.
Guilherme Wisnik
O Brasil precisa que o PT tenha oposições qualificadas à esquerda, como
a do PSOL. Ao mesmo tempo, é inacreditável que, logo após sofrer um escandaloso
golpe parlamentar, os partidos de esquerda no país não consigam se unir
minimamente e que a candidatura de Fernando Haddad -a mais progressista que
tivemos nas últimas décadas - sofra as consequências disso.
Refiro-me tanto à digna oposição de Luiza Erundina (PSOL), por um lado,
quanto ao factoide Marta Suplicy (PMDB), por outro. Muito longe da esquerda,
como se sabe, Marta pessoaliza o capital simbólico dos CEUs (Centros
Educacionais Unificados) na periferia, ao mesmo tempo em que defende os
privilégios das mansões dos Jardins e prega o aumento da velocidade dos carros.
Sua estratégia é cínica e oportunista: esconde o êxito objetivo da
política de Haddad, que diminuiu o trânsito e reduziu expressivamente os
acidentes na cidade, lançando o falso bordão da "indústria da multa",
que se aproveita do clima de acusações de corrupção contra o PT.
Ocorre que Haddad, ao contrário, é o prefeito que combateu
fortemente a corrupção, criando a Controladoria Geral do Município, que
desmontou a máfia do ISS, recuperando mais de R$ 600 milhões desviados, e
conseguiu renegociar a dívida (reduzida em R$ 25 bilhões), colocando em ordem
as finanças.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://m.folha.uol.com.br/opiniao/2016/09/1817474-haddad-revoluciona-os-usos-da-cidade.shtml
Guilherme Wisnik – Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – 28.09.2016.
In Folha de São Paulo.