"A instituição da qual fazemos parte é assassina”, afirma o investigador Denilson
Neves. Conheça ele e outros policiais que encampam a luta pelos direitos
humanos dentro das corporações.
Luiza Sansão
Na contramão do pensamento hegemônico das
polícias, que legitima práticas criminosas, policiais que são ativistas em
direitos humanos lutam, de dentro das corporações, por uma reestruturação do
modelo de segurança pública vigente. Espalhados pelo país, alguns deles contam
à Ponte Jornalismo como buscam espaços para defender suas posições.
Conhecido por sua militância em defesa dos
direitos humanos e pelo fim da guerra às drogas, o delegado da Polícia Civil do
Rio de Janeiro Orlando Zaccone, 51 anos, ressalta que a polícia tem um viés
autoritário no Brasil, onde ser policial significa se afastar dos interesses
populares e se atrelar aos interesses dos governos. “Alguns policiais que,
politicamente, se posicionam contra formas autoritárias e modelos fascistas de
governo, muitas vezes vistos como ‘menos policiais’, acabam buscando espaços
dentro das instituições para andar na contramão, e formas de operar que levem a
polícia a um patamar mais democrático”, analisa.
É o caso do tenente Anderson Duarte, 32 anos, da
Polícia Militar do Ceará, que paga um preço alto por ser o único oficial
cearense em atividade a se colocar publicamente a favor da desmilitarização das
polícias. “Quando você assume posições na contramão do sistema, está implicando
a sua carreira e a sua própria vida. É uma decisão muito séria”, afirma.
Nascido em família pobre, como a maioria de seus
colegas, Anderson ingressou na PM por necessidade, há dez anos, quando cursava
Geografia na UECE (Universidade Estadual do Ceará) e seguiu estudando, o que
logo se mostrou um obstáculo: quando o policial iniciou o mestrado em Educação
na UFC (Universidade Federal do Ceará), ouviu de um comandante que “policial
não é pra ficar estudando, não” e foi transferido do setor administrativo para
a rua.
(...)
Luiza Sansão –
11.01.2016
IN Ponte Jornalismo.