domingo, 30 de outubro de 2016

Haddad revoluciona os usos da cidade


Advogado, Haddad produziu ações que não manipulam betoneiras, e sim leis, atuando sobre as formas de uso da cidade. Trata-se de um político de outro tipo, com uma visão urbana estratégica e cirúrgica.
Com poucos recursos, criou não apenas faixas exclusivas de ônibus e de bicicletas -abriu avenidas ao uso dos pedestres, criou 150 linhas de ônibus noturnos e 120 praças com wi-fi livre.
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É fato que Haddad não se pautou por medidas eleitoreiras, muito ao contrário, e talvez pague o preço político disso. Mas, para além ou para aquém da cegueira ideológica do momento, produziu uma cidade com novos valores, orientada pelos interesses coletivos e pela ética do compartilhamento.

Guilherme Wisnik
  
O Brasil precisa que o PT tenha oposições qualificadas à esquerda, como a do PSOL. Ao mesmo tempo, é inacreditável que, logo após sofrer um escandaloso golpe parlamentar, os partidos de esquerda no país não consigam se unir minimamente e que a candidatura de Fernando Haddad -a mais progressista que tivemos nas últimas décadas - sofra as consequências disso.
Refiro-me tanto à digna oposição de Luiza Erundina (PSOL), por um lado, quanto ao factoide Marta Suplicy (PMDB), por outro. Muito longe da esquerda, como se sabe, Marta pessoaliza o capital simbólico dos CEUs (Centros Educacionais Unificados) na periferia, ao mesmo tempo em que defende os privilégios das mansões dos Jardins e prega o aumento da velocidade dos carros.
Sua estratégia é cínica e oportunista: esconde o êxito objetivo da política de Haddad, que diminuiu o trânsito e reduziu expressivamente os acidentes na cidade, lançando o falso bordão da "indústria da multa", que se aproveita do clima de acusações de corrupção contra o PT.
Ocorre que Haddad, ao contrário, é o prefeito que combateu fortemente a corrupção, criando a Controladoria Geral do Município, que desmontou a máfia do ISS, recuperando mais de R$ 600 milhões desviados, e conseguiu renegociar a dívida (reduzida em R$ 25 bilhões), colocando em ordem as finanças.
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Guilherme Wisnik – Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – 28.09.2016.
In Folha de São Paulo.