sábado, 15 de outubro de 2016

Novas regras de financiamento e uma tipologia de nossos políticos


Sim, o combate permanente à corrupção é um traço indispensável ao Estado de Direito. Mas, justamente por isso, é preciso ter em mente que ele não se presta a vitórias cabais, pois –embora possa sempre ser reduzida– a corrupção não pode ser erradicada. (...)
Operações ambiciosas de limpeza abrupta tenderão antes a se mostrar contraproducentes a longo prazo, pela fixação de precedentes talvez insustentáveis, pela insegurança jurídica decorrente e, no limite, pela própria desestabilização política eventualmente induzida. Pois é a vigilância mútua produzida pela competição partidária, corrupta que seja, que ironicamente constitui a base sobre a qual se assenta a cristalização institucional e a consequente autonomização burocrática hoje exibidas pelas instituições de controle.
Petistas vigiando tucanos e tucanos vigiando petistas constituem um lastro político fundamental para as instituições de controle. Nossos bravos procuradores, juízes e delegados, ao buscarem limpar o sistema, zerar o jogo, inspirados pelo combate à máfia (de onde se importou a metodologia da delação premiada), estão serrando o próprio galho político-institucional sobre o qual se apoiam. E, em caso de desestabilização mais aguda da disputa política, é quase certo que o sistema saia pior na outra ponta. 


Bruno P. W. Reis
Depois de vivermos, entre 1995 e 2012, o período mais estável da história política brasileira, com resultados econômicos e sociais relevantes para exibir, iniciamos a campanha eleitoral deste ano num quadro francamente preocupante.
Com a economia estagnada já há alguns anos e a elite política quase inteiramente ameaçada por uma interminável investigação judicial publicamente imbuída do propósito ingênuo de "passar o país a limpo", o Congresso Nacional, sob a batuta de um inimigo do governo, derivou ao longo de 2015 (e depois obstinou-se em 2016) rumo à consumação de um impeachment presidencial profundamente contestado, que aguçou de maneira dramática uma polarização política que já vinha se agravando lentamente desde 2006.
Neste momento, as perspectivas são de incerteza não só quanto à dinâmica eleitoral no curto prazo mas também quanto ao vigor da eventual recuperação econômica no futuro próximo, quanto à recomposição de alguma clivagem política estável, quanto à capacidade do sistema partidário prosseguir como fiador eleitoral e organizador do jogo parlamentar e, de maneira mais remota, até mesmo quanto à própria sobrevivência da ordem constitucional vigente.
Como viemos parar aqui? A narrativa predominante parece apontar o dedo para os vícios de uma elite política corrupta, propensa a uma relação predatória com uma sociedade que, passiva, a sustenta com seus impostos, e, desinformada, com seus votos.
(...)

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Bruno P. W. Reis – Professor de ciência política na Universidade Federal de Minas Gerais - 18.09.2016.
IN Folha de São Paulo, Ilustríssima.