terça-feira, 29 de novembro de 2016

Muere Fidel Castro, ¿el político más astuto del siglo XX?



Por medio siglo, la habilidad de Fidel para dar zancadas en el escenario mundial lo hicieron parecer por momentos un semidiós.
Y durante esos años, fuera que lo amaran o lo despreciaran, la mayoría de los cubanos había compartido la sensación de que ellos también eran especiales.
Ahora que no está, Cuba parece empequeñecerse, convertirse en un estado post-socialista más, plagado de problemas mundanos y contradicciones, aunque imbuido en una pátina de exotismo, y hasta de cierto romanticismo histórico por el país que fue bajo la égida de Fidel.
Sin él, nada en Cuba volverá a ser igual.

Jon Lee Anderson
El fallecido escritor colombiano Gabriel García Márquez escribió que en una ocasión vio a Fidel Castro, gran amante de los helados, comerse no menos de 28 bolas en una sola sentada.
Probablemente se trataba de una historia apócrifa, pero en su exageración García Márquez dijo una verdad fundamental sobre el comportamiento legendario de Castro, que alimentaba el estatus cuasi mitológico del que gozó durante gran parte de su vida adulta.
Después de que su Ejército Rebelde derrocara al dictador Fulgencio Batista en 1959, Castro no perdió tiempo en hacer sentir su presencia más allá de los confines de su isla natal. Su principal estrategia fue desafiar de manera abierta, con palabras y hechos, la hegemonía de Estados Unidos en América Latina.
(...)







Jon Lee Anderson – Jornalista e escritor – 20.11.2016.
IN BBC Brasil.




E seus inimigos não dizem que apesar de todos os pesares, das agressões de fora e das arbitrariedades de dentro, essa ilha sofrida mas obstinadamente alegre gerou a sociedade latino-americana menos injusta.


Eduardo Galeano
Seus inimigos dizem que foi rei sem coroa e que confundia a unidade com a unanimidade.
E nisso seus inimigos têm razão.
Seus inimigos dizem que, se Napoleão tivesse tido um jornal como o Granma, nenhum francês ficaria sabendo do desastre de Waterloo.
E nisso seus inimigos têm razão.
Seus inimigos dizem que exerceu o poder falando muito e escutando pouco, porque estava mais acostumado aos ecos que às vozes.
E nisso seus inimigos têm razão.
Mas seus inimigos não dizem que não foi para posar para a História que abriu o peito para as balas quando veio a invasão, que enfrentou os furacões de igual pra igual, de furacão a furacão, que sobreviveu a 637 atentados, que sua contagiosa energia foi decisiva para transformar uma colônia em pátria e que não foi nem por feitiço de mandinga nem por milagre de Deus que essa nova pátria conseguiu sobreviver a dez presidentes dos Estados Unidos, que já estavam com o guardanapo no pescoço para almoçá-la de faca e garfo.
(...)






Eduardo Galeano – Intelectual e escritor Uruguaio – 2008.
Do livro “Espelhos: uma história universal”.
Trad. Éric Nepomuceno.
IN Outras Palavras.


sábado, 26 de novembro de 2016

A esquerda optou pela obsolescência da transformação social e se rendeu à ideia de que as coisas são feitas aqui e agora




Henrique Costa – “A negação da condição operária significa dizer que os pais deles [de um grupo de jovens de cursos tecnológicos beneficiários do PROUNI pesquisados] tinham empregos que hoje são considerados de segunda categoria, mas que à época permitiam que eles pudessem ter carteira assinada e uma certa estabilidade. Hoje em dia, no entanto, esses jovens têm uma vida muito mais atarefada, e não só trabalham e estudam sábado ou domingo, mas a pressão pelo trabalho produz algo muito forte na subjetividade dessas pessoas de modo que elas não têm nem tempo de pensar a respeito disso. Como as pedagogas [outro grupo de beneficiários do PRouni investigados] já são mais velhas e entendem o problema da precariedade do trabalho de modo diferente, elas compreendem que são penalizadas pela desigualdade social e acabam desenvolvendo um senso de coletividade e identidade diferente, que acaba sendo condicionante para outras percepções da vida.
Se esses jovens não conseguem fazer essa identificação entre eles, não conseguem se ver parte de alguma coisa, fica complicado fazer um trabalho político porque eles não se veem dessa maneira. Os velhos discursos da esquerda têm muita dificuldade de atingi-los. Quem os atinge de alguma maneira são os partidos “pós-materialistas”, que não trabalham necessariamente a questão de classe”.
.

IHU On-Line
O sentimento geral entre os jovens 'prounistas' entrevistados para pesquisa de dissertação de mestrado Entre o lulismo e o ceticismo: um estudo de caso com prounistas de São Paulo “não é nem de agradecimento, nem de reconhecimento de que o governo estava trabalhando para eles”, diz Henrique Costa à IHU On-Line.
Segundo o autor da pesquisa, apesar de a narrativa “criada pelo próprio governo e repercutida” amplamente, “de que o Prouni implicou no acesso de grandes massas e de uma grande fatia da classe trabalhadora jovem à universidade, algo que não lhes era permitido anteriormente”, entre os jovens entrevistados essa política pública não repercute positivamente na imagem que se tem do lulismo.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, Costa ressalta que sua hipótese inicial era a de que os estudantes “reconhecessem o ProUni como uma política que os beneficiou”, mas se “surpreendeu um pouco, porque não foi exatamente assim. Eles veem o ProUni como uma obrigação do governo e de qualquer governo”, frisa.
Na avaliação dele, o resultado da pesquisa está condicionado a outros fatores, entre eles, o fato de os prounistas terem de trabalhar o dia todo, estudar à noite para poderem se manter no emprego, que também depende da conclusão do curso superior. “As pessoas começaram a ver que ganham 1,5 salário mínimo e continuarão ganhando esse mesmo salário, se não perderem seus empregos. (...) Isso tem a ver com a percepção dos jovens de como todo esse arranjo que o PT criou em torno dos programas sociais serve para a gestão social e não necessariamente para a mobilidade social. Foram criadas muitas vagas de emprego, mas se todas pagam muito pouco, isso demonstra que essas vagas ajudam as pessoas a se manter, mas elas dificilmente conseguirão modificar radicalmente seu padrão de vida”, avalia.
(...)






Henrique Costa – Doutorando em Ciência Política na Universidade de São Paulo – 14.06.2016.
IN IHU On-Line.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Se o Bolsa Família é compra de votos, qualquer outra política pública também seria



Repare: o efeito do programa [Bolsa-família] não é de troca, não é de 'vote em mim, senão você não vai receber o benefício'. Isso seria clientelismo. Agora, se o programa traz um resultado positivo para a vida das pessoas, algumas podem querer prestigiar o candidato do governo. Mas o efeito não é muito grande, não é determinante. Chamariam uma redução da inflação, que melhora a vida das pessoas, de compra de votos? Não chamariam. Por essa lógica, o Bolsa Família não é muito diferente. Senão, quase qualquer coisa que o governo faça seria compra de votos.

Ingrid Matuoka
Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes voltou a associar o Bolsa Família à prática de compra de votos. Segundo o magistrado, o programa de transferência de renda, principal vitrine das gestões de Lula e Dilma Rousseff, foi usado para a perpetuação dos governos petistas.
"Com o Bolsa Família generalizado, querem um modelo de fidelização que pode levar à eternização no poder. A compra de voto agora é institucionalizada", afirmou Mendes, na sexta-feira 21.
Cientista político da Fundação Getúlio Vargas, Cesar Zucco há tempos estuda o impacto eleitoral do Bolsa Família nas eleições. Em 2014, cada ponto porcentual de cobertura do programa em um município rendeu, em média, 0,32 ponto porcentual na votação de Dilma naquela cidade.
 (...)





Ingrid Matuoka – 21.10.2016.
César Zucco – Cientista politico e professor da Fundação Getúlio Vargas.
IN Carta Capital.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Chancela da tortura é a perfeita reprodução da estrutura que tomou o Judiciário


A chancela da tortura, infelizmente, não é exceção. É a mais perfeita reprodução dessa estrutura que tomou o Judiciário.

Brenno Tardelli
Você provavelmente já leu sobre o Juiz do Distrito Federal que autorizou a prática de tortura em estudantes do Distrito Federal. Se ainda não, explico de forma bem rápida: em um despacho de fazer Fleury morrer de inveja, o magistrado da Vara da Infância, a pedido do Ministério Público, determinou que policiais isolassem os adolescentes ocupantes de um colégio de luz, energia, comida e contato com familiares. Além disso, determinou que a polícia os privassem de descanso com incessante barulho voltado ao colégio.
É óbvio que uma decisão dessa assusta e nos faz perguntar a que ponto chegamos. Como que um magistrado se sente confortável para escrever e determinar uma coisa dessa?
Para responder a essa pergunta, filio-me a quem identifica há já algum tempo um processo de autoritarismo dos integrantes do Poder Judiciário. Claro, vale dizer, que pessoas dessas carreiras em regra nunca foram o primor de respeito à Constituição ou às garantias individuais. Ocorre, contudo, que ultimamente tem sido superada a indiferença aos direitos fundamentais para um estágio de militância em oposição a eles.  
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://justificando.com/2016/11/01/chancela-da-tortura-e-perfeita-reproducao-da-estrutura-que-tomou-o-judiciario/






Brenno Tardelli – Diretor de Redação do Justificando – 01.11.2016.
IN Justificando.

sábado, 19 de novembro de 2016

Eduardo Fagnani: 'Estamos vivendo o fim de um ciclo de conquistas sociais'


Eduardo Fagnani – “Essa investida é o fundamento do projeto ultraliberal que há quarenta anos eles tentam implementar no Brasil. O golpe foi uma oportunidade para fazerem isso. Provavelmente, entre 2017 e 2018, nós estaremos vivendo o fim de um ciclo de conquistas sociais iniciado em 1988. O ano de 1988 foi um momento ‘fora da curva’ no capitalismo brasileiro. Pela primeira vez, em 500 anos, o país conviveu com democracia e com alguma base de construção da cidadania social. A investida dos golpistas, agora, tem como objetivo recolocar o país na sua trajetória original, corrigindo o ‘equívoco’ que, para eles, foi 1988.”

Tatiana Carlotti
A PEC 241 mudou de numeração. Agora, a proposta de congelamento dos investimentos públicos durante vinte anos, passando por cima de direitos e garantias constitucionais, será tramitada como PEC 55 em dois turnos no Senado. 
 
A pressa dos golpistas em promover a mordaça ao Estado social é notória. A primeira votação acontece no próximo dia 29 de novembro. A segunda e derradeira em 13 de dezembro, uma macabra coincidência histórica: quem não se lembra de 13 de dezembro de 1968, quando baixaram o AI-5 no país?
(...)






Tatiana Carlotti – 01.11.2016.
Eduardo Fagnani – Economista, Professor da Unicamp.
IN Carta Maior.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

A república das Marcelas, o reino das princesas e o sonho das meninas


A questão ultrapassa pessoas. O estilo das duas primeiras-damas exemplifica um modelo de comportamento feminino esperado. Recomendam às meninas se distanciarem dos assuntos públicos em troca de um reinado doméstico.

Ângela Alonso
"Marcela amou-me durante 15 meses e 11 contos de réis, nada menos." Esta Marcela foi a paixão de juventude de Brás Cubas, o personagem-síntese do Brasil. Mas o nome também evoca outra Marcela, contemporânea e em tudo distinta da literária.
A de Machado de Assis era mulher livre, dona de seu nariz. Perigosa. Tanto assim que o Cubas pai tratou de afastar o filho da moça. A Marcela de carne e osso carrega menos risco e nenhuma ambiguidade. Compartilha com a ficcional o enquadramento num certo ideal de mulher, regido pela beleza. Mas aí se esgota o paralelo.
A primeira-dama reza por breviário mais simples e bem conhecido. Trafega em zona ultrassegura, nada precisa prover ou provar. Tem as contas pagas, as falas prontas, a vida decidida. Nem o nome do filho careceu escolher: no menino se reproduziu o senhor seu pai.
(...)






Ângela Alonso – Socióloga, professora da USP e pesquisadora do Cebrap – 18.10.2016.
In Folha de São Paulo


terça-feira, 15 de novembro de 2016

Dívida pública é um mega esquema de corrupção institucionalizado



Para ex-auditora da Receita, convidada pelo Syriza para analisar a dívida grega, sistema atual provoca desvio de recursos públicos para o mercado financeiro.

Renan Truffi
Dois meses antes de o governo Dilma Rousseff anunciar oficialmente o corte de 70 bilhões de reais do Orçamento por conta do ajuste fiscal, uma brasileira foi convidada pelo Syriza, partido grego de esquerda que venceu as últimas eleições,para compor o Comitê pela Auditoria da Dívida Grega com outros 30 especialistas internacionais. A brasileira em questão é Maria Lucia Fattorelli, auditora aposentada da Receita Federal e fundadora do movimento “Auditoria Cidadã da Dívida” no Brasil. Mas o que o ajuste tem a ver com a recuperação da economia na Grécia? Tudo, diz Fattorelli. “A dívida pública é a espinha dorsal”.
Enquanto o Brasil caminha em direção à austeridade, a estudiosa participa da comissão que vai investigar os acordos, esquemas e fraudes na dívida pública que levaram a Grécia, segundo o Syriza, à crise econômica e social. “Existe um ‘sistema da dívida’. É a utilização desse instrumento [dívida pública] como veículo para desviar recursos públicos em direção ao sistema financeiro”, complementa Fattorelli.
Esta não é a primeira vez que a auditora é acionada para esse tipo de missão. Em 2007, Fattorelli foi convidada pelo presidente do Equador, Rafael Correa, para ajudar na identificação e comprovação de diversas ilegalidades na dívida do país. O trabalho reduziu em 70% o estoque da dívida pública equatoriana.
(...)





Renan Truffi – 09.06.2015.
Maria Lucia Fattorelli – Auditora aposentada.
IN Carta Capital.


sábado, 12 de novembro de 2016

Laval y Dardot: “El neoliberalismo es una forma de vida, no sólo una ideología o una política económica"


Pierre Dardot – “el neoliberalismo es mucho más que un tipo de capitalismo. Es una forma de sociedad e, incluso, una forma de existencia. Lo que pone en juego es nuestra manera de vivir, las relaciones con los otros y la manera en que nos representamos a nosotros mismos. No sólo tenemos que vérnoslas con una doctrina ideológica y con una política económica, sino también con un verdadero proyecto de sociedad (en construcción) y una cierta fabricación del ser humano. 
(...) 
Ahora cada cual está llamado en adelante a concebirse y conducirse como una empresa, una “empresa de sí mismo” como decía Foucault.
Ser “empresa de sí” significa vivir por completo en el riesgo, compartir un estilo de existencia económica hasta ahora reservado exclusivamente a los empresarios. Se trata de una conminación constante a ir más allá de uno mismo, lo que supone asumir en la propia vida un desequilibrio permanente, no descansar o pararse jamás, superarse siempre y encontrar el disfrute en esa misma superación de toda situación dada. Es como si la lógica de acumulación indefinida del capital se hubiese convertido en una modalidad subjetiva. Ese es el infierno social e íntimo al que el neoliberalismo nos conduce”.

Amador Fernández-Savater, Marta Malo e Débora Ávila
¿En qué consiste el neoliberalismo? ¿Se puede aún pensar como aquella ideología que hace del “menos Estado” su característica principal? ¿Cómo extiende e impone una determinada forma de organizar el mundo y la vida que hace de la competencia la norma universal de los comportamientos? ¿Cómo se puede resistir, subvertir, salir de sus coordenadas?
El penúltimo libro de los intelectuales franceses Christian Laval (sociólogo) y Pierre Dardot (filósofo) retoma los planteamientos de Michel Foucault y emprende una ambiciosa reconstrucción de la historia y el presente de lo que ellos llaman lanueva razón del mundo. Y en el último, Commun (que será publicado por Gedisa a lo largo del año), analizan las luchas que proliferan hoy en día por todas partes y proponen “lo común” como el término central de una alternativa política para una revolución del siglo XXI. Común tiene todas las trazas de convertirse en una referencia mayor en el debate político de los próximos años, algo como en su día pudo ser Imperio de Toni Negri y Michael Hardt.
A la luz de la coyuntura actual, donde el significado de palabras como “poder” o “ganar” tiene tanta importancia, Marta Malo, Débora Ávila (investigadoras, activistas y amigas) y yo mismo les preguntamos por algunas cuestiones fundamentales que abordan ambos libros: la diferencia entre poder político y “gobierno”, la naturaleza indisociable del neoliberalismo como política macro y micro (planes de ajuste y a la vez producción de formas de vida) o la necesidad política de encontrar una vía alternativa entre la “toma del poder” y la fuga hacia una sociedad paralela.

(...)





Christian Laval – Sociólogo francês; Pierre Dardot – filósofo francês.
Amador Fernández-Savater, Marta Malo e Débora Ávila – 10.10.2014.
In El Diário (Espanha).


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Sobre a ameaça de desglobalização


Desde 2012, o comércio global cresce 3% ao ano, menos da metade da taxa dos 30 anos anteriores.


Simon Nixon
Um dos principais quebra-cabeças da economia global no momento é a desaceleração do comércio. Desde 2012, o comércio global cresce 3% ao ano, menos da metade da taxa dos 30 anos anteriores.
Entre 1985 e 2003, ele avançou a um ritmo duas vezes mais rápido que o produto interno bruto global. Nos últimos quatro anos, ele mal conseguiu manter o passo, segundo o Fundo Monetário Internacional. E essa desaceleração tem sido generalizada, afetando tanto países desenvolvidos como os emergentes, o comércio tanto de serviços como de bens.
A Organização Mundial do Comércio agora prevê que o comércio mundial crescerá apenas 1,7% este ano, a primeira vez em 15 anos que seu crescimento será menor que o da economia mundial.

Essa desaceleração é preocupante pelo que ela pode provocar no longo prazo na saúde da economia global. A globalização das últimas décadas tem sido um grande condutor da elevação do padrão de vida no mundo. Os cidadãos dos países desenvolvidos se beneficiaram da queda dos preços e os das economias emergentes se beneficiaram de empregos com salários.
(...)





Simon Nixon – 10.10.2016.
In Valor Econômico [ originalmente em The Wall Street Journal, de Londres].

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

‘‘As forças políticas perderam a noção’’


André Singer – “Eu não diria que esteja no horizonte um fechamento completo. Não vejo nenhum risco de cairmos numa situação ditatorial, mas há sérias ameaças sobre a qualidade, a profundidade, as características da democracia brasileira. A democracia brasileira avançou bastante no período pós-Constituição de 1988. Surgiu um avanço democrático importante nos anos seguintes. Na sequência, antes mesmo do impeachment temos essa situação complicada de uma operação anticorrupção que se vale do arbítrio. A Lava Jato tem que continuar, ela é importante. No seu conjunto, ela é positiva e necessária, mas vem se valendo de decisões arbitrárias, que colocam em risco os direitos individuais“.

Luiza Villaméa
Cientista político e professor da Universidade de São Paulo, André Singer é conhecido por produzir análises acuradas sobre o cenário nacional. No momento em que o País anda convulsionado pela Operação Lava Jato e as urnas ajudaram a consolidar a onda conservadora que se insinuava desde as eleições de 2012, Singer acredita estar diante de um retrocesso social com ameaças à democracia. “Não vejo nenhum risco de cairmos numa situação ditatorial, mas há sérias ameaças sobre a qualidade, a profundidade e as características da democracia brasileira”, diz, referindo-se ao processo que culminou no impeachment de Dilma Rousseff e à operação que tem o PT como alvo preferencial. “A Lava Jato tem de continuar. No seu conjunto, é positiva e necessária, mas estou convencido de que ela vem se valendo de decisões arbitrárias, que colocam em risco os direitos individuais.”
Na opinião de Singer, apesar da gravidade do momento, que tem como pano de fundo um sistema de financiamento eleitoral repleto de vícios, os dirigentes políticos brasileiros não estão agindo à altura da situação: “As forças políticas perderam a noção da gravidade do que está acontecendo. O momento precisa ser encarado com muita responsabilidade”. Porta-voz do governo Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2007, Singer acredita que o ex-presidente tem capital político maior do que o partido criado em fevereiro de 1980: “Ele alcançou uma dimensão que, aconteça o que acontecer, continua sendo a peça-chave”. Para o cientista político, a saída para a esquerda brasileira, no futuro imediato, passa por duas iniciativas, ambas “difíceis”: a formação de uma frente “ampla, democrática e republicana” e a retomada dos trabalhos de base.
(...)
Para continuar a leitura e ler a entrevista, acesse http://brasileiros.com.br/2016/10/forcas-politicas-perderam-nocao/







Luiza Villaméa – 21.10.2016.
André Singer – Cientista Político, professor da USP.
IN Revista Brasileiros. 

sábado, 5 de novembro de 2016

A metade cheia ou a metade vazia


na década de 1970, o Brasil apresentava relativa igualdade na pobreza, pois, à exceção das áreas mais industrializadas da região Sudeste, a pobreza de renda e de serviços era generalizada. A industrialização, no regime militar, produziu crescimento econômico e expansão dos serviços, ao preço de uma grande divisão entre regiões ricas (Sul e Sudeste) e pobres (Norte e Nordeste), expressão territorial da concentração espacial dos excluídos. Atenuada em 2000, em 2010 apresentava uma configuração inteiramente distinta daquela obtida vinte anos antes.
Essa trajetória não é explicada por um único fator isolado. Resulta de uma combinação de mudanças demográficas, forças de mercado e políticas de inclusão dos (antigos) outsiders.

Marta Arretche
De campeão mundial da desigualdade a show case de sua redução, o Brasil voltou a atrair preocupações por causa da prolongada crise política e econômica que atravessa. Essas crises ainda têm desenlace imprevisível, mas podemos olhar para o passado e discutir a sustentabilidade de nossas conquistas sociais.
Há muitas maneiras de observar a desigualdade. Nossas respostas dependem crucialmente da métrica que adotamos.
Pela métrica popularizada por Thomas Piketty – o percentual da renda total apropriada pelo 1% mais rico –, no Brasil os mais ricos preservam cerca de um quarto da renda total. Além disso, pagam em média apenas 1,8% de imposto sobre sua renda. Por essa métrica, o Brasil enfrenta o mesmo problema de aumento da concentração da renda verificado em nível mundial. Logo, há razões para esperar que a recessão econômica, o desemprego e as elevadas taxas de juros levarão ao aumento da desigualdade de renda a curto prazo.
Por outro lado, penso que a métrica do 1% não é a única adequada para medir distâncias sociais. A desigualdade no Brasil não é resultado apenas do fosso entre o 1% mais rico e os demais 99%, mas resulta também das distâncias entre os demais 99%.
(...)





Marta Arretche – Cientista Política, Professora da USP – s.d.

In Oxfam.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Países do Brics partilham sistema de mídia que defende interesses da elite


Raquel Paiva, coordenadora de estudo que mapeia a mídia no bloco emergente e professora da UFRJ, aponta similaridades do jornalismo nos cinco países – “até agora constatamos a presença do mesmo modelo e com uma censura forte que se não é politica, mas é econômica. Não sei exatamente se estas novas possibilidades discursivas surgiriam a partir de um novo bloco governamental, mas acredito firmemente que grupos de pesquisa, de professores, de jornalistas desse bloco capazes de dialogar podem sim gestar novas possibilidades informacionais e comunicacionais”.

Opera Mundi
Raquel Paiva é a pesquisadora responsável por coordenar o núcleo brasileiro de pesquisa que faz um mapeamento da mídia nos Brics. Em entrevista a Opera Mundi, a professora de comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) apresentou os primeiros resultados do estudo comparativo do Brasil com Rússia, Índia, China e África do Sul.
A perspectiva inicial é que os problemas de concentração e os interesse econômicos e políticos a frente dos veículos de comunicação é uma questão em comum entre os países do bloco emergente. Na esteira do crescimento dos Brics, Raquel acredita no esforço conjunto de grupos de pesquisa, profissionais e sociedade civil para que o bloco emergente possa também representar um novo modelo comunicacional contra-hegemônico.

 
Opera Mundi: Por que é importante discutir mídia e comunicação social na perspectiva dos Brics? O que há em comum entre os países que compõe o bloco em termos de comunicação? 
Raquel Paiva: Acredito que da mesma maneira que se discutem outras variáveis com relação a este bloco que se iniciou e se consolidou a partir principalmente do viés econômico, outras forças também passam a ser elencadas como passíveis de discussão. Até mesmo questões que estejam de fato relacionadas à vida de suas populações e à solução de problemas seculares. A comunicação social em todas as abordagens é fundamental neste contexto.
(...)




Raquel Paiva – Professora de comunicação da UFRJ – 14.12.2015.
IN Opera Mundi.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Nenhum país adotou teto de gasto como a PEC 241


Levantamento do FMI mostra que o modelo de teto de gastos adotado em outros países é diferente do que pretende o governo brasileiro. Saiba quais as diferenças na checagem feita pelo Truco, projeto da Agência Pública em parceria com o Congresso em Foco.


 Projeto Truco no Congresso 
“Vale a pena destacar casos positivos da fixação de teto de gastos. Todos os países que adotaram essa sistemática recuperaram sua economia. A Holanda, por exemplo, adotou limites em 1994, conseguiu reduzir a relação dívida/PIB de 77,7% para 46,8% e enxugou as despesas com juros de 10,7% para 4,8% do PIB. Ao mesmo tempo o desemprego caiu de 6,8% para 3,2%.” – Trecho do relatório da PEC 241 na Câmara, de autoria do deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).
A fixação de um teto para os gastos públicos, defendida pelo governo Michel Temer (PMDB) com a Proposta de Emenda à Constituição 241/2016 (PEC 241), tem sido adotada ao redor do mundo desde meados dos anos 1990. Pioneira ao aderir a esse tipo de controle, a Holanda foi usada como exemplo por Darcísio Perondi (PMDB-RS) na Câmara dos Deputados. O Truco no Congresso – projeto de checagem da Agência Pública, feito em parceria com o Congresso em Foco – verificou um trecho do relatório escrito pelo deputado, que defende a aprovação da iniciativa. O parlamentar citou números positivos do país europeu, e escreveu ainda que todos os que implantaram a medida recuperaram a sua economia. Será que as informações usadas por Perondi estão corretas?
A PEC 241 define um limite para os gastos do governo federal, que durante 2o anos só será corrigido pela inflação do ano anterior – se aprovada em 2016, a medida valerá até 2036. Qualquer mudança nas regras da PEC só poderá ser feita a partir do décimo ano, e será limitada à alteração do índice de correção anual.
 (...)





Projeto Truco no Congresso – projeto de checagem da Agência Pública, feito em parceria com o Congresso em Foco – 25.10.2016.
In Congresso em Foco.