na década de 1970, o Brasil apresentava relativa igualdade na
pobreza, pois, à exceção das áreas mais industrializadas da região Sudeste, a
pobreza de renda e de serviços era generalizada. A industrialização, no regime
militar, produziu crescimento econômico e expansão dos serviços, ao preço de
uma grande divisão entre regiões ricas (Sul e Sudeste) e pobres (Norte e
Nordeste), expressão territorial da concentração espacial dos excluídos.
Atenuada em 2000, em 2010 apresentava uma configuração inteiramente distinta
daquela obtida vinte anos antes.
Essa trajetória não é explicada por um único fator isolado. Resulta
de uma combinação de mudanças demográficas, forças de mercado e políticas de
inclusão dos (antigos) outsiders.
Marta Arretche
De campeão mundial da desigualdade a show case de sua redução, o Brasil
voltou a atrair preocupações por causa da prolongada crise política e econômica
que atravessa. Essas crises ainda têm desenlace imprevisível, mas podemos olhar
para o passado e discutir a sustentabilidade de nossas conquistas sociais.
Há muitas maneiras de observar a desigualdade. Nossas respostas dependem
crucialmente da métrica que adotamos.
Pela métrica popularizada por Thomas Piketty – o percentual da renda
total apropriada pelo 1% mais rico –, no Brasil os mais ricos preservam cerca
de um quarto da renda total. Além disso, pagam em média apenas 1,8% de imposto
sobre sua renda. Por essa métrica, o Brasil enfrenta o mesmo problema de
aumento da concentração da renda verificado em nível mundial. Logo, há razões
para esperar que a recessão econômica, o desemprego e as elevadas taxas de
juros levarão ao aumento da desigualdade de renda a curto prazo.
Por outro lado, penso que a métrica do 1% não é a única adequada para
medir distâncias sociais. A desigualdade no Brasil não é resultado apenas do
fosso entre o 1% mais rico e os demais 99%, mas resulta também das distâncias
entre os demais 99%.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.oxfam.org.br/publicacoes/cada-vez-mais-desigual/a-metade-cheia-ou-a-metade-vazia-do-copo
Marta Arretche – Cientista Política, Professora da USP – s.d.
In Oxfam.