quinta-feira, 17 de novembro de 2016

A república das Marcelas, o reino das princesas e o sonho das meninas


A questão ultrapassa pessoas. O estilo das duas primeiras-damas exemplifica um modelo de comportamento feminino esperado. Recomendam às meninas se distanciarem dos assuntos públicos em troca de um reinado doméstico.

Ângela Alonso
"Marcela amou-me durante 15 meses e 11 contos de réis, nada menos." Esta Marcela foi a paixão de juventude de Brás Cubas, o personagem-síntese do Brasil. Mas o nome também evoca outra Marcela, contemporânea e em tudo distinta da literária.
A de Machado de Assis era mulher livre, dona de seu nariz. Perigosa. Tanto assim que o Cubas pai tratou de afastar o filho da moça. A Marcela de carne e osso carrega menos risco e nenhuma ambiguidade. Compartilha com a ficcional o enquadramento num certo ideal de mulher, regido pela beleza. Mas aí se esgota o paralelo.
A primeira-dama reza por breviário mais simples e bem conhecido. Trafega em zona ultrassegura, nada precisa prover ou provar. Tem as contas pagas, as falas prontas, a vida decidida. Nem o nome do filho careceu escolher: no menino se reproduziu o senhor seu pai.
(...)






Ângela Alonso – Socióloga, professora da USP e pesquisadora do Cebrap – 18.10.2016.
In Folha de São Paulo