A questão ultrapassa pessoas. O estilo das duas primeiras-damas
exemplifica um modelo de comportamento feminino esperado. Recomendam às meninas
se distanciarem dos assuntos públicos em troca de um reinado doméstico.
Ângela Alonso
"Marcela
amou-me durante 15 meses e 11 contos de réis, nada menos." Esta Marcela
foi a paixão de juventude de Brás Cubas, o personagem-síntese do Brasil. Mas o
nome também evoca outra Marcela, contemporânea e em tudo distinta da literária.
A de
Machado de Assis era mulher livre, dona de seu nariz. Perigosa. Tanto assim que
o Cubas pai tratou de afastar o filho da moça. A Marcela de carne e osso
carrega menos risco e nenhuma ambiguidade. Compartilha com a ficcional o
enquadramento num certo ideal de mulher, regido pela beleza. Mas aí se esgota o
paralelo.
A
primeira-dama reza por breviário mais simples e bem conhecido. Trafega em zona
ultrassegura, nada precisa prover ou provar. Tem as contas pagas, as falas
prontas, a vida decidida. Nem o nome do filho careceu escolher: no menino se
reproduziu o senhor seu pai.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www1.folha.uol.com.br/colunas/angela-alonso/2016/10/1825018-a-republica-das-marcelas-o-reino-das-princesas-e-o-sonho-das-meninas.shtml
Ângela Alonso – Socióloga, professora da USP e pesquisadora do Cebrap – 18.10.2016.
In Folha de São Paulo