André
Singer – “Eu não diria que esteja no horizonte um fechamento completo. Não
vejo nenhum risco de cairmos numa situação ditatorial, mas há sérias ameaças
sobre a qualidade, a profundidade, as características da democracia brasileira.
A democracia brasileira avançou bastante no período pós-Constituição de 1988.
Surgiu um avanço democrático importante nos anos seguintes. Na sequência, antes
mesmo do impeachment temos essa situação complicada de uma operação
anticorrupção que se vale do arbítrio. A Lava Jato tem que continuar, ela é
importante. No seu conjunto, ela é positiva e necessária, mas vem se valendo de
decisões arbitrárias, que colocam em risco os direitos individuais“.
Luiza Villaméa
Cientista político e professor da Universidade de São Paulo, André Singer
é conhecido por produzir análises acuradas sobre o cenário nacional. No momento
em que o País anda convulsionado pela Operação Lava Jato e as urnas ajudaram a
consolidar a onda conservadora que se insinuava desde as eleições de 2012,
Singer acredita estar diante de um retrocesso social com ameaças à democracia.
“Não vejo nenhum risco de cairmos numa situação ditatorial, mas há sérias
ameaças sobre a qualidade, a profundidade e as características da democracia
brasileira”, diz, referindo-se ao processo que culminou no impeachment de Dilma
Rousseff e à operação que tem o PT como alvo preferencial. “A Lava Jato tem de
continuar. No seu conjunto, é positiva e necessária, mas estou convencido de
que ela vem se valendo de decisões arbitrárias, que colocam em risco os
direitos individuais.”
Na opinião de Singer, apesar da gravidade do momento, que tem como pano
de fundo um sistema de financiamento eleitoral repleto de vícios, os dirigentes
políticos brasileiros não estão agindo à altura da situação: “As forças
políticas perderam a noção da gravidade do que está acontecendo. O momento
precisa ser encarado com muita responsabilidade”. Porta-voz do governo Luiz
Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2007, Singer acredita que o ex-presidente tem
capital político maior do que o partido criado em fevereiro de 1980: “Ele
alcançou uma dimensão que, aconteça o que acontecer, continua sendo a
peça-chave”. Para o cientista político, a saída para a esquerda brasileira, no
futuro imediato, passa por duas iniciativas, ambas “difíceis”: a formação de
uma frente “ampla, democrática e republicana” e a retomada dos trabalhos de
base.
(...)
Para continuar a leitura e ler a entrevista, acesse http://brasileiros.com.br/2016/10/forcas-politicas-perderam-nocao/
Luiza Villaméa – 21.10.2016.
André Singer – Cientista Político, professor da USP.
IN Revista Brasileiros.