segunda-feira, 7 de novembro de 2016

‘‘As forças políticas perderam a noção’’


André Singer – “Eu não diria que esteja no horizonte um fechamento completo. Não vejo nenhum risco de cairmos numa situação ditatorial, mas há sérias ameaças sobre a qualidade, a profundidade, as características da democracia brasileira. A democracia brasileira avançou bastante no período pós-Constituição de 1988. Surgiu um avanço democrático importante nos anos seguintes. Na sequência, antes mesmo do impeachment temos essa situação complicada de uma operação anticorrupção que se vale do arbítrio. A Lava Jato tem que continuar, ela é importante. No seu conjunto, ela é positiva e necessária, mas vem se valendo de decisões arbitrárias, que colocam em risco os direitos individuais“.

Luiza Villaméa
Cientista político e professor da Universidade de São Paulo, André Singer é conhecido por produzir análises acuradas sobre o cenário nacional. No momento em que o País anda convulsionado pela Operação Lava Jato e as urnas ajudaram a consolidar a onda conservadora que se insinuava desde as eleições de 2012, Singer acredita estar diante de um retrocesso social com ameaças à democracia. “Não vejo nenhum risco de cairmos numa situação ditatorial, mas há sérias ameaças sobre a qualidade, a profundidade e as características da democracia brasileira”, diz, referindo-se ao processo que culminou no impeachment de Dilma Rousseff e à operação que tem o PT como alvo preferencial. “A Lava Jato tem de continuar. No seu conjunto, é positiva e necessária, mas estou convencido de que ela vem se valendo de decisões arbitrárias, que colocam em risco os direitos individuais.”
Na opinião de Singer, apesar da gravidade do momento, que tem como pano de fundo um sistema de financiamento eleitoral repleto de vícios, os dirigentes políticos brasileiros não estão agindo à altura da situação: “As forças políticas perderam a noção da gravidade do que está acontecendo. O momento precisa ser encarado com muita responsabilidade”. Porta-voz do governo Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2007, Singer acredita que o ex-presidente tem capital político maior do que o partido criado em fevereiro de 1980: “Ele alcançou uma dimensão que, aconteça o que acontecer, continua sendo a peça-chave”. Para o cientista político, a saída para a esquerda brasileira, no futuro imediato, passa por duas iniciativas, ambas “difíceis”: a formação de uma frente “ampla, democrática e republicana” e a retomada dos trabalhos de base.
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Para continuar a leitura e ler a entrevista, acesse http://brasileiros.com.br/2016/10/forcas-politicas-perderam-nocao/







Luiza Villaméa – 21.10.2016.
André Singer – Cientista Político, professor da USP.
IN Revista Brasileiros.