Henrique
Costa – “A
negação da condição operária significa dizer que os pais deles [de um
grupo de jovens de cursos tecnológicos beneficiários do PROUNI pesquisados]
tinham empregos que hoje são considerados de segunda categoria, mas que à época
permitiam que eles pudessem ter carteira assinada e uma certa estabilidade.
Hoje em dia, no entanto, esses jovens têm uma vida muito mais atarefada, e não
só trabalham e estudam sábado ou domingo, mas a pressão pelo trabalho produz
algo muito forte na subjetividade dessas pessoas de modo que elas não têm nem
tempo de pensar a respeito disso. Como as pedagogas [outro grupo de
beneficiários do PRouni investigados] já são mais velhas e entendem o problema
da precariedade do trabalho de
modo diferente, elas compreendem que são penalizadas pela desigualdade social e
acabam desenvolvendo um senso de coletividade e identidade diferente, que acaba
sendo condicionante para outras percepções da vida.
Se
esses jovens não conseguem fazer essa identificação entre eles, não conseguem
se ver parte de alguma coisa, fica complicado fazer um trabalho político porque
eles não se veem dessa maneira. Os velhos discursos da esquerda têm muita
dificuldade de atingi-los. Quem os atinge de alguma maneira são os partidos
“pós-materialistas”, que não trabalham necessariamente a questão de classe”.
.
IHU On-Line
O sentimento geral entre os jovens 'prounistas' entrevistados para
pesquisa de dissertação de mestrado Entre
o lulismo e o ceticismo: um estudo de caso com prounistas de São Paulo “não
é nem de agradecimento, nem de reconhecimento de que o governo estava
trabalhando para eles”, diz Henrique Costa à IHU On-Line.
Segundo o autor da pesquisa, apesar de a narrativa “criada pelo próprio
governo e repercutida” amplamente, “de que o Prouni implicou no acesso de grandes massas e de uma
grande fatia da classe trabalhadora jovem à universidade, algo que não lhes era
permitido anteriormente”, entre os jovens entrevistados essa política pública
não repercute positivamente na imagem que se tem do lulismo.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, Costa ressalta que sua hipótese inicial era a
de que os estudantes “reconhecessem o ProUni como uma política que os beneficiou”, mas se “surpreendeu um pouco,
porque não foi exatamente assim. Eles veem o ProUni como uma obrigação do governo e de
qualquer governo”, frisa.
Na avaliação dele, o resultado da pesquisa está condicionado a outros
fatores, entre eles, o fato de os prounistas terem de
trabalhar o dia todo, estudar à noite para poderem se manter no emprego, que
também depende da conclusão do curso superior. “As pessoas começaram a ver que
ganham 1,5 salário mínimo e continuarão ganhando esse mesmo salário, se não
perderem seus empregos. (...) Isso tem a ver com a percepção dos jovens de como
todo esse arranjo que o PT criou em
torno dos programas sociais serve para a gestão social e não necessariamente
para a mobilidade social. Foram
criadas muitas vagas de emprego, mas se todas pagam muito pouco, isso demonstra que essas vagas ajudam
as pessoas a se manter, mas elas dificilmente conseguirão modificar
radicalmente seu padrão de vida”, avalia.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://ihu.unisinos.br/entrevistas/556318-a-esquerda-optou-pela-obsolescencia-da-transformacao-social-e-se-rendeu-a-ideia-de-que-as-coisas-sao-feitas-aqui-e-agora-entrevista-especial-com-henrique-costa
Henrique
Costa – Doutorando em
Ciência Política na Universidade de São Paulo – 14.06.2016.
IN IHU On-Line.