sábado, 26 de novembro de 2016

A esquerda optou pela obsolescência da transformação social e se rendeu à ideia de que as coisas são feitas aqui e agora




Henrique Costa – “A negação da condição operária significa dizer que os pais deles [de um grupo de jovens de cursos tecnológicos beneficiários do PROUNI pesquisados] tinham empregos que hoje são considerados de segunda categoria, mas que à época permitiam que eles pudessem ter carteira assinada e uma certa estabilidade. Hoje em dia, no entanto, esses jovens têm uma vida muito mais atarefada, e não só trabalham e estudam sábado ou domingo, mas a pressão pelo trabalho produz algo muito forte na subjetividade dessas pessoas de modo que elas não têm nem tempo de pensar a respeito disso. Como as pedagogas [outro grupo de beneficiários do PRouni investigados] já são mais velhas e entendem o problema da precariedade do trabalho de modo diferente, elas compreendem que são penalizadas pela desigualdade social e acabam desenvolvendo um senso de coletividade e identidade diferente, que acaba sendo condicionante para outras percepções da vida.
Se esses jovens não conseguem fazer essa identificação entre eles, não conseguem se ver parte de alguma coisa, fica complicado fazer um trabalho político porque eles não se veem dessa maneira. Os velhos discursos da esquerda têm muita dificuldade de atingi-los. Quem os atinge de alguma maneira são os partidos “pós-materialistas”, que não trabalham necessariamente a questão de classe”.
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IHU On-Line
O sentimento geral entre os jovens 'prounistas' entrevistados para pesquisa de dissertação de mestrado Entre o lulismo e o ceticismo: um estudo de caso com prounistas de São Paulo “não é nem de agradecimento, nem de reconhecimento de que o governo estava trabalhando para eles”, diz Henrique Costa à IHU On-Line.
Segundo o autor da pesquisa, apesar de a narrativa “criada pelo próprio governo e repercutida” amplamente, “de que o Prouni implicou no acesso de grandes massas e de uma grande fatia da classe trabalhadora jovem à universidade, algo que não lhes era permitido anteriormente”, entre os jovens entrevistados essa política pública não repercute positivamente na imagem que se tem do lulismo.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, Costa ressalta que sua hipótese inicial era a de que os estudantes “reconhecessem o ProUni como uma política que os beneficiou”, mas se “surpreendeu um pouco, porque não foi exatamente assim. Eles veem o ProUni como uma obrigação do governo e de qualquer governo”, frisa.
Na avaliação dele, o resultado da pesquisa está condicionado a outros fatores, entre eles, o fato de os prounistas terem de trabalhar o dia todo, estudar à noite para poderem se manter no emprego, que também depende da conclusão do curso superior. “As pessoas começaram a ver que ganham 1,5 salário mínimo e continuarão ganhando esse mesmo salário, se não perderem seus empregos. (...) Isso tem a ver com a percepção dos jovens de como todo esse arranjo que o PT criou em torno dos programas sociais serve para a gestão social e não necessariamente para a mobilidade social. Foram criadas muitas vagas de emprego, mas se todas pagam muito pouco, isso demonstra que essas vagas ajudam as pessoas a se manter, mas elas dificilmente conseguirão modificar radicalmente seu padrão de vida”, avalia.
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Henrique Costa – Doutorando em Ciência Política na Universidade de São Paulo – 14.06.2016.
IN IHU On-Line.