domingo, 7 de maio de 2017

“O impacto da greve não é imediato, mas alinhou setores da população que estavam dispersos”


Adrian Gurza Lavalle – “O Brasil está muito clivado. Há a novidade histórica recente do país que é a clivagem ideológica. A direita, os conservadores, estão organizados e vocalizando suas posições claramente. Essa clivagem não tem a ver com classe social, ela é transversal e alinha grupos sociais com posições econômicas diversas. Esse fator dividiu as ruas brasileiras nos últimos anos. Por outro lado, as reformas podem fazer com que o lado da chamada “esquerda social”, que ficou com pouca capacidade de atração de segmentos populacionais mais amplos – basicamente por causa dos escândalos de corrupção recentes –, ganhe força novamente. Nesta sexta-feira [Greve geral de 28.04.2017], a novidade foi que setores tradicionais do campo da esquerda, como a CUT, conseguiram fazer com que outros setores, que estavam dispersos, aderissem à greve”.

André de Oliveira
A despeito da popularidade em baixa, e de críticas às reformas trabalhista e previdenciária por parte de setores da sociedade, o Governo Temer mantém seu cronograma de pautas no Congresso com sucesso. Sexta-feira, 28 [abril], a greve geral chamada por centrais sindicais em diversos estados brasileiros representou um teste de força para o avanço das reformas encabeçadas pelo Governo. Adrian Lavalle, cientista político da Universidade São Paulo (USP) e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), conversou com o EL PAÍS para comentar as movimentações sociais e o impacto que elas podem causar no andamento político de Brasília. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Pergunta. Segundo pesquisa divulgada nesta semana pelo Instituto Ipsos, o apoio ao Governo Temer caiu para cerca de 4%, enquanto 92% dos brasileiros acham que o país está no rumo errado. Qual é o impacto real que esses índices têm sobre Brasília?
Resposta. Não existe nenhuma regra automática de conversão dos clamores populares na atuação dos políticos. Enquanto o mundo da política tem suas próprias regras, lógicas e interesses, os atores sociais com capacidade de mobilização também. Esses universos só se encontram quando as ruas vão de encontro aos interesses políticos, como aconteceu no caso do impeachment de Dilma Rousseff. Naquele caso, os políticos se arvoraram no papel de intérpretes dos anseios populares. Agora, o discurso mais comum é que as mobilizações, como as que ocorreram nesta sexta-feira, sejam tachadas de baderna.
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André de Oliveira – 30.04.2017.
Adrian Gurza Lavalle – Cientista Político.
IN El País Brasil.