segunda-feira, 12 de junho de 2017

Julgamento de tráfico em SP dura 15 minutos e não tem testemunhas


Essa dinâmica tem se tornado normal, segundo especialistas em direito penal e defensores ouvidos pela Folha. Com pouca investigação que produza provas e falta de critérios claros para diferenciar traficante de usuário, o depoimento de agentes policiais que efetuam prisões em flagrante tem prevalecido em julgamentos de tráfico.
Pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência da USP, de 2012, apontou que 74% das prisões por tráfico de drogas em São Paulo tinham como únicas testemunhas os policiais militares —que gozam de "fé pública". Só 4% das detenções foram feitas a partir de investigações, diz o estudo.
No Rio, o Tribunal de Justiça, por meio de uma súmula, autoriza juízes a condenarem réus tendo como prova única a palavra de policiais.

Leandro Machado
O pedreiro Felipe, 21, teve três minutos para se defender da acusação de tráfico de drogas em uma audiência no Tribunal de Justiça de São Paulo, na Barra Funda, zona oeste da capital. Acabou condenado a um ano e oito meses em regime fechado.
Na manhã de 14 de agosto de 2016, ele estava sentado com amigos na calçada na frente de sua casa no Jardim Pantanal, bairro pobre na zona leste. Dois policiais militares, montados em motos, entraram na rua. Com medo, Felipe e os jovens correram. O pedreiro, sem arma, foi preso.
Segundo os PMs, ele tinha 20 pinos de cocaína, uma pequena quantidade de maconha e R$ 37. Felipe nega, diz que foi agredido e que a droga foi plantada pelos agentes. "Eles vão no bairro, batem em nós, dizem que vão prender", relatou.
(...)









Leandro Machado – Jornalista – 15.01.2017.

Folha de São Paulo.