segunda-feira, 26 de junho de 2017

O primeiro voo do Condor


Com nome da ave de rapina dos Andes, a operação clandestina que uniu ditaduras militares do Cone Sul para perseguir, capturar e até eliminar dissidentes políticos além das fronteiras foi criada pelo Brasil. Conheça em detalhes a ação que deflagrou a rede ilegal de colaboração – o sequestro do coronel Jefferson Cardim de Alencar Osório em Buenos Aires e sua volta forçada para o Rio de Janeiro.

Wagner William
A Operação Condor foi criada no Brasil. Uma colaboração clandestina entre os países do Cone Sul, sem reconhecimento de soberanias diplomáticas e ignorando leis, documentos, fronteiras e pedidos oficiais; levada a cabo para capturar e destruir, com violência, fugitivos políticos ou exilados. Desde o início o Brasil agiu como ator principal.
O macabro sucesso das primeiras atividades dessa colaboração entre os governos tornou a operação mais sofisticada. Formou-se uma rede tentacular de práticas ilegais e subversivas, grupos paramilitares e clandestinos que abusavam do poder, praticando crimes, sequestros, torturas, prisões, assassinatos e terrorismo oficial de Estado.
Em novembro de 1975, na Academia de Guerra do Exército em Santiago do Chile, realizou-se uma reunião que contou com representantes da Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e do próprio Chile. O Brasil estava lá, mas seus dois representantes receberam ordens de se colocarem apenas como observadores. Eram eles os agentes do Centro de Informações do Exército Flávio de Marco e Thaumaturgo Sotero Vaz. Ali, a Operação Condor ganhou nome, certidão de nascimento, pais e padrinhos. Existem, no entanto, provas de que essa integração entre os governos – ou seus subterrâneos, que se preparavam para assumir o comando por meio de golpes – já acontecia cinco anos antes da famosa reunião.
Uma dessas provas foi trazida a público pelo presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke: o Informe 338, de 19 de dezembro de 1970, do Adido do Exército à Embaixada do Brasil na Argentina, protocolado na Agência Central do Serviço Nacional de Informações com o número 001061, em 20 de janeiro de 1971. Esse documento relata o sequestro, em Buenos Aires, de um dos militares brasileiros mais odiados pela velha guarda da ditadura: o coronel Jefferson Cardim de Alencar Osório. Mostra também como foi montado todo o esquema para trazê-lo de volta ao Brasil.
A possibilidade de que a prisão do coronel Jefferson Cardim fosse, de fato, o início da operação já havia sido levantada pelos jornalistas Darío Pignott, do jornal argentino Página 12, que localizou o Informe 338; e Roger Rodríguez, da revista uruguaia Caras y Caretas. Brasileiros teve acesso aos diários do coronel e traz agora os detalhes, atores, diálogos e segredos do primeiro ato da Operação Condor.










Wagner William – 19.12.2012
Artigo vencedor do Prêmio Vladimir Herzog de direitos humanos em 2013.
IN Revista Brasileiros.