Uma das dimensões centrais para as desigualdades urbanas é o
desenvolvimento de políticas nacionais para habitação, serviços urbanos e
planejamento. A partir de 2003, as políticas do Ministério das Cidades
representaram passos importantes (mas não suficientes) para a recomposição da
presença federal no setor. Verificaram-se avanços na institucionalização das
políticas urbanas no Brasil, com a constituição de fundos de financiamento da
provisão habitacional de interesse social, conselhos e conferências
participativos, planos setoriais para habitação, saneamento e resíduos sólidos,
e programas de incentivo à promoção local de planos diretores participativos,
regularização fundiária e planos locais de habitação. Esse sistema em
construção, entretanto, não chegou a ser alimentado por recursos vultosos.
Estes só chegaram a partir de 2009 e orientados para intervenções formatadas
com outra lógica, de fomento à demanda (o programa Minha Casa Minha Vida),
embora o PAC tenha realizado intervenções importantes de urbanização em muitas
cidades. As feições do Minha Casa Minha Vida têm gerado resultados
contraditórios.
Eduardo Marques
Os desafios associados à construção de boas condições urbanas e de vida
nas últimas décadas no país têm sido enormes, não apenas pelo baixo
desenvolvimento econômico, pela presença de precariedade e pobreza e pelas
grandes diferenças regionais, mas também pela velocidade das transformações
ocorridas – a população urbana passou de 13 milhões de pessoas em 1940 para 31
milhões em 1960, 80 milhões em 1980 e 160 milhões em 2010.
O balanço desses processos deve ser realizado com cuidado, afastando
tanto narrativas excessivamente otimistas quanto retratos catastrofistas. O
saldo varia substancialmente dependendo do assunto considerado, da escala de
cidade e da região do país. Essa heterogeneidade se associa à baixa presença
federal nas políticas públicas que incidem diretamente sobre as cidades,
diferentemente das políticas sociais, onde a regulação federal tem criado maior
homogeneidade. Apesar do inegável avanço dos últimos anos, restam grandes
desafios de produção de capacidades estatais em nível local, de financiamento
(em vários níveis) e de regulação da terra urbana e dos serviços contratados ou
concedidos a empresas privadas. Esse quadro geral, entretanto, varia muito
segundo os elementos, políticas e dimensões considerados.
Uma primeira dimensão geral diz respeito à população de nossas cidades.
Na maior parte dos casos, nossas cidades têm crescido a
taxas cada vez menores desde os anos 1980, alcançando níveis bastante reduzidos nos últimos anos. Isso foi o resultado de uma combinação de fatores.
taxas cada vez menores desde os anos 1980, alcançando níveis bastante reduzidos nos últimos anos. Isso foi o resultado de uma combinação de fatores.
(...)
Para continuar a leitura, acesse http://www.oxfam.org.br/publicacoes/cada-vez-mais-desigual/desigualdades-urbanas
Eduardo Marques – Cientista Político, Professor da USP – s.d.
In Oxfam.
In Oxfam.