A diferença entre a situação anterior e a
atual é que o afastamento —e posterior prisão— de Cunha funcionava para
legitimar o polêmico impedimento de Dilma, ainda em curso naquele momento. Era preciso "lavar" o procedimento que visava derrubar a
petista. Agora que é outro o presidente da República denunciado, o tratamento
mudou.
André Singer
As duas
decisões tomadas nesta sexta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) lançam, outra
vez, dúvidas sobre a isenção da Justiça nesta longa e tenebrosa crise. Ao soltar o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures e devolver o mandato ao senador Aécio Neves, ficam
questionadas medidas resolvidas em fases anteriores, as quais tiveram
importante influência sobre o processo político.
Compare-se o tempo de estadia, no mesmo cubículo da
Polícia Federal, destinado ao então líder do governo Dilma no Senado, Delcídio
do Amaral, e, agora, ao assessor de Temer. Preso em novembro de 2015, Amaral
ficou detido 85 dias e só saiu porque concordou em fazer delação premiada. A
peça extorquida por meio do que hoje a família Loures chama de condições
torturantes tinha como centro a afirmação de que Lula e Dilma conheciam o
esquema de corrupção na Petrobras.
O vazamento da colaboração "voluntária" de
Delcídio virou edição extra da revista "Isto É" no meio da semana,
com direito a uma extensa cobertura eletrônica. Dois dias depois o
ex-presidente Lula sofria condução coercitiva. No domingo subsequente, veio a
gigantesca manifestação de rua, a qual iria selar o destino político de
Rousseff.
(...)
Para continuar
a leitura, acesse http://m.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/2017/07/1897627-medidas-do-stf-mostram-desequilibio.shtml?cmpid=compfb
André Singer – Cientista
Político, Professor da USP – 01.07.2017.
In Folha de
S. Paulo.