sexta-feira, 7 de julho de 2017

Por dois segundos eu vi o Brasil que havia superado a escravidão dos negros


Por dois segundos eu vi um Brasil que havia superado a escravidão dos negros e o extermínio dos índios e dado chances iguais para todo mundo; não esse país que faz pacto atrás de pacto através dos séculos para manter inalterada a nossa catástrofe. Era um país bonito.

 

Antônio Prata
Sabe quando você sonha que está no seu quarto, mas não tem nada a ver com o seu quarto, mas sente que é o seu quarto? Foi tipo isso. Saí do elevador do hotel com a certeza de que estava no Brasil –afinal, ao entrar no elevador, eu estava no Brasil–, mas não parecia o Brasil.
Vi, no hall, uns 20 adolescentes bem vestidos, saudáveis, aparelhos nos dentes, cortes de cabelo estilosos; uns conversavam em rodinhas, outros ouviam música em seus fonões de ouvido, estirados nas poltronas com aquela mistura de arrogância e insegurança típica dos 15 anos, quando você pensa que sabe tudo e sabe que não sabe nada ao mesmo tempo. O detalhe que fez eu me sentir dentro e fora do Brasil é que os garotos eram todos negros, pardos, morenos.
Me senti no Brasil porque os meninos tinham a cor e a fisionomia da maioria dos brasileiros. Fora do Brasil porque a maioria dos meninos brasileiros com a cor e a fisionomia daqueles ali não costuma frequentar lobbies de hotéis, bem vestidos, de aparelhos nos dentes, cortes de cabelo estilosos, fones nos ouvidos, estirados nas poltronas. Costumam carregar as malas, limpar os quartos, sim, senhor, não, senhor, obrigado, senhor, disponha, senhor.
(...)

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Antônio Prata – Escritor – 02.04.2017.
IN Folha de S. Paulo.