quinta-feira, 13 de julho de 2017

O antimilagre econômico brasileiro


os limites das políticas implementadas foram intensificados pelas implicações do processo cumulativo. Tomados em conjunto, tais fatores parecem permitir uma interpretação mais frutífera das dificuldades observadas desde 2011, em que a política econômica buscou, sem sucesso, lidar com esse legado complexo do período anterior. Isso não significa que a crise atual seja reflexo dos erros cometidos pelos governos passados e dos excessos permitidos no período de abundância, como sugere a visão convencional, a fim de defender uma guinada liberal que não tende a gerar prosperidade, a não ser para os muito ricos. Significa, no entanto, que uma estratégia que combine crescimento com redução de desigualdades deve levar em consideração seus impactos sobre a estrutura produtiva, para que consiga evitar que se acumulem tensões que ponham a perder as conquistas alcançadas.

Fernando Rugitsky
A queda do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2016 confirma que estamos passando por uma das crises econômicas mais profundas da nossa história. Essa crise é mais bem compreendida à luz do período imediatamente anterior, que pode ser dividido em duas fases: i) o período do boom das commodities, entre 2004 e 2011, em que o crescimento acelerou-se em relação à tendência observada desde os anos 1980 e a desigualdade salarial declinou; e ii) o período de desaceleração, a partir de 2012.
A trajetória brasileira no período foi similar àquela de alguns países sul-americanos, que também passaram por uma aceleração do crescimento combinada à queda da desigualdade, até que a reversão do ciclo das commodities trouxesse seus impactos negativos. Seria possível supor que tais trajetórias podem ser explicadas essencialmente pelos efeitos da própria dinâmica dos preços das commodities e pelas políticas implementadas pelos governos de centro-esquerda que chegaram ao poder no período, em vários países da região. No entanto, olhar para a interação entre demanda agregada, distribuição de renda e estrutura produtiva permite uma compreensão mais profunda da curta fase auspiciosa e de seus limites, a fim de que as lições desse ciclo, que, ao menos no Brasil, se encerrou, sejam aprendidas.
(...)








Fernando Rugitsky – Economista, Professor da FEA/USP – março, abril de 2017.
In Rumos, ABDE.