Rede de think tanks conservadores dos EUA financia jovens
latino-americanos para combater governos de esquerda da Venezuela ao Brasil e
defender velhas bandeiras com um nova linguagem.
Marina Amaral
“O corpo é a primeira propriedade privada que temos;
cabe a cada um de nós decidir o que quer fazer com ele”, brada em espanhol a
loirinha de voz firme, enquanto se movimenta com graça no palco do Fórum da
Liberdade, ornado com os logotipos dos patrocinadores oficiais – Souza Cruz,
Gerdau, Ipiranga e RBS (afiliada da Rede Globo). O auditório de 2 mil lugares
da PUC-RS, em Porto Alegre, completamente lotado, explode em risos e aplausos
para a guatemalteca Gloria Álvarez, 30 anos, filha de pai cubano e mãe
descendente de húngaros.
Gloria ou @crazyglorita (55 mil seguidores no
Twitter e 120 mil em sua fanpage do Facebook) ascendeu ao estrelato
entre a juventude de direita latino-americana no final do ano passado, quando
um vídeo em que ataca o “populismo” na América Latina durante o Parlamento
Iberoamericano da Juventude em Zaragoza (Espanha) viralizou na internet. No
principal fórum da direita brasileira, Gloria e o ex-governador republicano da
Carolina do Sul David Bensley são os únicos entre os 22 palestrantes,
brasileiros e estrangeiros, escalados para os keynote –
palestras-chave que norteiam os debates nos três dias do evento, batizado de
“Caminhos da Liberdade”.
Radialista há dez anos, hoje com um programa na TV,
Gloria é uma show-woman cativante. Conduz com desenvoltura a plateia formada
majoritariamente por estudantes da PUC gaúcha, uma das melhores e mais caras
universidades do Sul do país. “Quem aqui se declara liberal ou libertarista que
levante a mão?”, pede ao público, que responde com mãos erguidas. “Ah, ok”,
relaxa. Sua missão é ensinar a seus pares ideológicos como “seduzir e enamorar
os públicos de esquerda” e vencer “os barbudos de boina de Che”, explica a
jovem líder do Movimiento Cívico Nacional (MCN), uma pequena organização que
surgiu em 2009 na Guatemala na esteira dos movimentos que pediam – sem êxito –
o impeachment do presidente social-democrata Álvaro Colom.
A primeira lição é utilizar nas redes sociais o hashtag criado
por ela, “república x populismo”, para superar “a divisão obsoleta entre
direita e esquerda”. “Um esquerdista intelectualmente honesto tem de reconhecer
que a única saída é o emprego, e um direitista do século 21, que já se
modernizou, tem de reconhecer que a sexualidade, a moral, as drogas são um
problema de cada um; ele não é a autoridade moral do universo”, continua, sob
uma chuva de aplausos. Nada de culpa, nem moral nem social, ensina. A mensagem
é liberdade individual, “empoderamento” da juventude, impostos baixos, Estado
mínimo – a plataforma da direita liberal (em termos econômicos) no mundo todo:
“A riqueza não se transfere, senhores, a riqueza se cria a partir da cabecinha
de cada um de vocês”, diz. Da mesma maneira, Gloria rebate programas sociais de
assistência aos mais pobres, política de cotas para mulheres, negros,
deficientes e até mesmo a existência de minorias: “Não há minorias, a menor
minoria é o indivíduo, e a ele o que melhor serve é a meritocracia”.
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