Li praticamente todos os clássicos sobre a formação do Brasil.
Conhecia teoricamente o nosso país. Mas a experiência prática é insubstituível.
Vivi na pele o que li nos livros.
O Brasil conheceu períodos democráticos em sua história, mas nunca
um período republicano, ou essencialmente republicano, em que as instituições
não se envolvem no mérito das disputas partidárias. A discussão sobre as
contradições entre república e democracia foi exposta com perspicácia pelos
federalistas norte-americanos, há mais de 200 anos. Os Pais Fundadores
observavam que a democracia podia facilmente degradar-se em tirania da maioria.
Pensaram então numa série de contrapesos, em instituições que pudessem impedir
a tirania sobre minorias e preservar o país da ação de facções.
O Brasil deixaria Madison, Jay e Hamilton de cabelos em pé. Quando
se olha para as instituições do país, vê-se logo que são tomadas por uma
espécie de luta interna entre seus propósitos mais nobres e uma encarniçada
disputa político-partidária, que obedece à lógica das facções. As instituições
que deveriam apenas “garantir o jogo” democrático têm apetite por “jogar o
jogo”, o que o torna menos democrático.
Fernando Haddad
Eu já havia trabalhado com Dilma Rousseff por um
ano, ao longo da transição do Ministério da Educação para Aloizio Mercadante.
Conhecia seu estilo tanto como ministra-chefe da Casa Civil quanto como
presidenta da República. E, ao contrário do que se diz dela, que é
“democrática” no tratamento duro que dedica aos subordinados, eu diria até que
sempre me tratou com consideração. Em dezembro de 2012, ainda antes de minha
posse no Edifício Matarazzo, fui a Brasília para aquela que seria a nossa
primeira audiência de trabalho após minha eleição como prefeito de São Paulo.
Em um contato rápido que havíamos tido na manhã
seguinte ao segundo turno, eu já havia insinuado à presidenta que entendia que
o governo federal deveria tratar São Paulo de maneira singular, em função de
sua importância. Ela então me olhou com um sorriso irônico, como quem diz “Não
me venha querer levar vantagem”. Pensando em retrospecto, creio que a relação
de Dilma com São Paulo nunca se resolveu completamente.
Dilma me recebeu em seu gabinete no 3º andar do
Palácio do Planalto, ao lado dos ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Miriam
Belchior, do Planejamento, Orçamento e Gestão. Comigo estava o secretário de
Finanças Marcos Cruz, que o empresário Jorge Gerdau havia me apresentado e que
deixara a consultoria McKinsey para organizar as contas da prefeitura.
(...)
Para continuar
a leitura, acesse http://piaui.folha.uol.com.br/materia/vivi-na-pele-o-que-aprendi-nos-livros/?hc=Y2U5NDZiOGEwYzc2MjczNWExZDc2NDcxM2MxOGY3ZDI
Fernando Haddad – Cientista Político, Professor da USP, ex-Prefeito de São Paulo – junho de 2017.
In Revista Piauí.