O paradoxo some quando se distinguem três
níveis de participação política: o do eleitor, o do político profissional e o
do ativista.
(...)
Os três níveis não se intercambiam, tampouco
se excluem. Ao contrário. Sem o eleitor (daí a importância do voto obrigatório),
a política seria apenas de conluios entre grupos de interesse e políticos
profissionais. Nela teriam exclusividade os mais organizados, os mais bem
relacionados, os mais endinheirados.
Angela Alonso
Saíram há pouco pesquisas com resultados à primeira
vista paradoxais. A do Datafolha conta onde mora a popularidade do presidente.
É no fundo do poço: 76% são pró-renúncia, 81% por impeachment e 83% por
eleições diretas. Os cidadãos identificam o problema, a perda de
capacidade de governar, e veem a saída da crise na saída do presidente. Maioria
incontrastável grita "Fora, Temer".
Mas a aferição do DataPoder360, também de junho,
informa aos apressados que 61% dos brasileiros preferem assistir ao fim de
"House of Cards" tupiniquim do sofá de casa. Negam-se a ir às ruas demandar ao sistema político a troca imediata do mandatário avariado.
A antinomia deve assustar a parcela de ativistas e
analistas, à esquerda e à direita, crentes de que diagnóstico correto —tomada
de consciência ou pensamento racional— produz mobilização massiva.
(...)
Para continuar
a leitura, acesse http://m.folha.uol.com.br/colunas/angela-alonso/2017/07/1897581-salvador-da-patria-costuma-sabotar-a-democracia-ao-inves-de-salva-la.shtml
Angela Alonso – Socióloga, Professora da USP e Presidenta do
CEBRAP – 01.07.2017.
IN Folha de S. Paulo.