O Brasil não fez o ajuste
de contas necessário com sua trajetória autoritária, de Vargas aos militares.
Tivemos muitos avanços nas últimas décadas democráticas, mas não soubemos
mostrar, sobretudo aos mais jovens, como vivemos hoje melhor do que no passado.
Pior: a crise política prolongada e a necessidade de remodelar o modelo de
Estado para que ele seja um excelente provedor de serviços públicos são dois
fatores que estão minando a confiança na democracia. Por isso, é urgente que as
lideranças políticas e sociais saibam que se não ocorrer uma reformulação
profunda no modus operandi do sistema político e da administração pública,
estará em jogo não o governante de plantão, mas a capacidade de sustentar o
próprio regime democrático.
Fernando Abrúcio
Há uma data que minha geração não esquece: 15 de janeiro de 1985. Neste
dia, Tancredo Neves, candidato de oposição ao regime militar, venceu a eleição
indireta à Presidência da República. Depois de quase 21 anos de autoritarismo,
o país voltava à democracia. Não foi um caminho fácil, numa transição
"lenta, gradual e segura", como definira o general Golbery. Além
disso, a morte de Tancredo e a posse de Sarney mantiveram o suspense em relação
ao efetivo ocaso da ditadura. Mas parecia que o final feliz tinha chegado
quando a Constituição de 1988 foi promulgada, em 5 de outubro de 1988. A partir
daí, tivemos o mais longo período democrático de nossa história. Porém, alguns
fantasmas autoritários começam a rondar o Brasil novamente.
Os riscos à democracia estão na sociedade e na classe política. São
grupos cada vez maiores de brasileiros que creem cada vez menos no jogo democrático,
e políticos que fazem discursos que desrespeitam princípios básicos do Estado
de direito – o pior é que um conjunto importante do eleitorado apoia essa visão
de mundo. Soma-se a isso a perda de poder e coerência de muitas instituições
após quase três anos de crise política.
Um primeiro indício assustador da sociedade brasileira foi dado pela
pesquisa Medo da Violência e Apoio ao Autoritarismo, realizada pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública em parceria com Datafolha.
(...)
Para continuar a leitura, acesse
http://www.valor.com.br/cultura/5162426/batalha-contra-o-autoritarismo-nao-acabou
http://www.valor.com.br/cultura/5162426/batalha-contra-o-autoritarismo-nao-acabou
Fernando Abrúcio – doutor em ciência política pela USP e coordenador do curso de
administração pública da FGV-SP – 20.10.2017.
IN Valor Econômico.