Os entrevistados [da
classe C] são indiferentes às reformas previdenciária e trabalhista pela
simples razão de que não as compreendem. Talvez por isso tenham engrossado os
protestos de maio. A ficha pode cair para aqueles que estiverem empregados e, com a vigência das novas leis
trabalhistas, já não receberem, compulsoriamente, o dissídio de suas categorias
no próximo ano.
(...) De tudo que viu e
ouviu, Torreta concluiu que, de tão disseminada a percepção de corRupção na
política, o eleitor se mostra mais sensível ao argumento da eficiência. Desde
que seja administrada a favor do eleitor e sem a estampa do gestor, que, na sua
cabeça, é sinônimo de patrão.
Maria Cristina Fernandes
“Menos Estado? Além de escola, creche, posto de saúde ou ônibus, vai
falar mais o quê?. O autor da pergnta tem 32 anos e mora nas franjas de São
Paulo. Participou de uma pesquisa que colheu depoimentos ainda na periferia do
Rio, Porto Alegre e Recife. Dez grupos de oito pessoas cada e 40 líderes
comunitário, ouvidos a partir de um roteiro com duração de até três horas,
compõem a mostra. Todos são egressos da classe C, origem de 80 milhões de
brasileiros.
Os resultados desestimularam o grupo de empresários que pretendia motar
um moviemnto para influenciar nas próximas eleições e encomendar a pesquisa a
André Torreta. Publicitári especializado em classe C co incursões no marketing
político (Roseana Sarney e Geraldo Alckmin), Torreta hoje está associado à
Cambridge Analytica, empresa que participou da campanha do presidente
americano, Donald Trump. Ao expor sua colheita a um banqueiro ouviu a seguinte
proposta: “Quanto você quer para não divulgar isso?”.
Os depoimentos assustam porque mostram a dramticidade de uma sucessão que
escancara inadiável enfrentamento de suas desigualdades. Se há um Brasil em que
o Estado não cabe mais no PIB, há um outro que está dele excluído. O acerto de
contas comporta riscos e incertezas que cabem na democracia mas custam a se
ajustar às planilhas.
(...)
Maria Cristina Fernandes – 23.11.2017.
IN Valor Econômico.