O mal-estar que atinge a sociedade
brasileira é geral. Seu fulcro está no impeachment. Se o Brasil fosse um
Paraguai, onde a democracia não está consolidada, não ficaríamos indignados e
envergonhados. Mas não somos. O impeachment derrotou a todos —a esquerda e a
direita.
(...)
Como eu, imagino que
muitos brasileiros estejam hoje indignados. Mas a indignação não justifica
radicalismo ou enfrentamento. A crise que vivemos nasceu do radicalismo e do
ódio que, de repente, emergiram nas manifestações populares de junho de 2013.
Radicalismo não se enfrenta com radicalismo, nem ressentimento com
ressentimento, mas com política e negociação.
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Um mal-estar tomou conta da sociedade brasileira. As causas imediatas são
a recessão econômica, a ilegitimidade do presidente da República, a
desmoralização dos políticos, a corrupção generalizada, a violência contra os direitos
civis praticada por um juiz e promotores de Curitiba, e a radicalização
política da classe média tradicional, ressentida por avanços políticos e
sociais como a regulamentação do trabalho doméstico e a política de cotas nas
universidades.
Mais profundamente, estamos envergonhados porque não soubemos honrar a
democracia que nós próprios construímos. Entre 1930 e 1980, formamos nosso
Estado-nação e realizamos nossa revolução industrial e capitalista; em seguida,
nos anos 1980, construímos a democracia, e a tornamos social. Isso tudo era
motivo de orgulho. Mas, em 2016, um impeachment arranhou gravemente essa
democracia.
O impeachment de Dilma Rousseff será para sempre uma mancha na história
do Brasil. Para que fosse realizado, uma quadrilha de políticos convidou
ideólogos para escreverem um plano de governo neoliberal, que foi o passe para
garantir o apoio das elites financeiro-rentistas, da classe média tradicional e
do partido político que as representa —o PSDB.
Em seguida, o governo passou a comprar deputados para aprovar reformas
radicais, que, segundo os mesmos ideólogos, levarão o Brasil ao paraíso. Uma
delas, aborto jurídico e econômico –a emenda constitucional congelando a
despesa pública; outra —a reforma trabalhista—, uma vitória contra os
trabalhadores a partir do diagnóstico absurdo de que a falta de competitividade
das empresas brasileiras não decorre do juro alto e do câmbio apreciado, mas de
salários altos.
(...)
Para
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Luiz Carlos Bresser-Pereira – professor emérito da Fundação Getulio Vargas. Foi ministro da Fazenda
(governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado e da Ciência e
Tecnologia (governo FHC) - 06.11.2017.
IN Folha de S. Paulo