sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

“O sistema repressivo é mobilizado contra os indivíduos mais periféricos no crime”




Alessandra Teixeira – “O aparato repressivo e investigativo não é mobilizado a atuar contra a cadeia da receptação, em suas diferentes escalas e mobilidades, ou contra os níveis mais articulados da economia do tráfico, os atacadistas, distribuidores e a lavagem de dinheiro. Todo o sistema repressivo é mobilizado para prender, e prender muito, os indivíduos mais desarticulados e mais periféricos na economia do crime”.


Beatriz Drague Ramos
Entre 2015 e 2016, o número de roubos no estado de São Paulo cresceu 5,19%, chegando a 323 mil, o maior número desde 1999, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP). Entre o segundo trimestre de 2015 e o mesmo período deste ano, crimes contra o patrimônio e delitos violentos também tiveram altas, chegando, respectivamente, a 298 mil e 100 mil casos.
Este fenômeno ocorre, segundo Alessandra Teixeira, advogada, doutora em Sociologia pela USP e professora da Universidade Federal do ABC, em um contexto no qual interagem duas forças. A primeira delas é a busca, por parte de muitos jovens, por uma atividade criminal tida como menos arriscada e mais rentável que o tráfico de drogas.
O segundo é o fato de as forças de segurança estarem mais preocupadas em prender os elementos mais vulneráveis do mundo do crime, enquanto dão pouca atenção a organizações criminosas e a seus mecanismos mais complexos. "O aparato repressivo e investigativo não é mobilizado a atuar contra a cadeia da receptação, em suas diferentes escalas e modalidades, ou contra os níveis mais articulados da economia do tráfico", afirma Teixeira.
No livro “O Crime pelo Avesso”, lançado em setembro, a pesquisadora Teixeira analisa a relação do aparato estatal com a criminalidade e as transições da economia do crime em São Paulo dos anos 1930 até hoje. Nesta entrevista, a pesquisadora refaz o histórico da violência no estado e mostra como chegou-se ao cenário atual.
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Beatriz Drague Ramos – 02.11.2017.
Alessandra Teixeira – Socióloga, Professora da UFABC.
IN Carta Capital.