No próximo dia 1º de maio (hoje),
comemoram-se setenta anos da promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), uma das maiores conquistas sociais do país. Em tempos de baixos níveis
de desemprego, aumento de renda e redução das desigualdades, vale a pena examinar
a história dos direitos trabalhistas no Brasil. Ela tem início nos tempos da
escravidão, quando os cativos lutavam contra a brutalidade de um regime que os
privava de aspectos mínimos de dignidade humana.
Gilberto Maringoni
Está em curso uma mudança sensível na estratificação social brasileira.
Quatro variáveis principais marcam esse panorama: uma situação de virtual pleno
emprego, o aumento da participação dos salários na renda nacional, a elevação
do valor real do salário mínimo e a expansão do crédito. Milhões de trabalhadores
saíram de um quadro de pobreza extrema e paulatinamente se integram ao mercado
de consumo.
Pelo menos duas dessas características têm raízes nas lutas sociais da
primeira metade do século 20: o emprego formal – com carteira assinada – e o
salário mínimo nacional. Fazem parte do longo caminho pela conquista dos
direitos trabalhistas, que muitas vezes se confunde com a própria demanda
coletiva pela democracia e por melhores condições de vida.
Quatro séculos de escravidão
O Brasil, como se sabe, tem sua história marcada por quase quatro
séculos de escravidão, durante os quais falar de direitos do trabalho era pouco
mais que obra de ficção. Desprovido da prerrogativa básica da cidadania – a
liberdade –, o cativo não figurava sequer em nossa primeira Constituição.
Inspirada em ideais iluministas, ela apresenta o que seriam direitos políticos
sem concretizar nenhum direito social. Descreve os membros da população como
“cidadãos”. Seu artigo 1º assim classifica o país:
“O Império do Brasil é a associação política de todos os cidadãos
brasileiros. Eles formam uma nação livre, e independente, que não admite com
qualquer outra laço algum de união, ou federação, que se oponha à sua
independência”.
A Carta repele a censura à livre manifestação do pensamento, “reconhece
e garante o direito de intervir todo cidadão nos negócios da sua Província”,
estipula a “inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos
brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a
propriedade”, afiança a lei como “igual para todos”, resolve que “ficam
abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente e todas as mais penas
cruéis” e afirma que “a instrução primária é gratuita a todos os cidadãos”.
Aparentemente, era um conjunto de regras avançado. No entanto, não havia
uma só linha dedicada à escravidão. Mesmo assim, não faltaram rebeliões,
revoltas e até greves durante esse período.
Se olharmos em perspectiva, o Brasil do século 19 sofreu aceleradas
transformações em períodos de tempo extremamente curtos. Começou como colônia,
povoada por cerca de 3,24 milhões de habitantes, e terminou como república
consolidada, com uma população de 17,37 milhões de pessoas. Constitui-se num
importante fornecedor de matérias-primas para o mercado internacional e importador
de manufaturados.
A Abolição dos escravos, em 1888, restringiu-se à libertação, sem
medidas complementares, como reforma agrária, ampliação do mercado de trabalho
para os libertos, acesso à educação, saúde etc. Ou seja, sem direitos de
cidadania a não ser o do fim do cativeiro. Era um progresso insuficiente para a
construção de um país democrático.
No fim do Império, em 1889, existiam 55 mil operários – a maioria
imigrantes – trabalhando em pequenas oficinas e poucas fábricas de grande
porte. E havia cerca de um milhão de escravos recém-libertos. A abundância de
mão de obra imigrante levou os ex-cativos a constituírem um imenso exército
industrial de reserva, descartável e sem força política na jovem República. Num
quadro desses, o nascente empresariado não via sentido em pagar salários
decentes ou conceder qualquer tipo de direitos aos seus trabalhadores.
Primeiras leis
Com os imigrantes, vieram as primeiras ideias socialistas e anarquistas.
É nesse momento que começa a se formar o que viria a ser a classe operária
brasileira. O auge da primeira fase da imigração vai de 1870 a 1914, ano do
início da I Guerra Mundial. Só de italianos, o Brasil recebeu, entre 1884 e
1903, mais de um milhão.
Entre a Abolição e a Revolução de 1930, foram definidas poucas regras para mediar a relação entre capital e trabalho. O liberalismo vigente advogava o distanciamento do Estado dessas questões.
Entre a Abolição e a Revolução de 1930, foram definidas poucas regras para mediar a relação entre capital e trabalho. O liberalismo vigente advogava o distanciamento do Estado dessas questões.
A primeira das leis promulgadas é de 1903. Trata-se do Decreto nº 979,
que concedia aos trabalhadores da agricultura e de empresas rurais o direito de
organizarem-se em sindicatos. Em 1907, o decreto nº 1.637 garante a
sindicalização aos trabalhadores urbanos. No mesmo ano, como forma de enfrentar
o crescimento dos protestos trabalhistas, o Congresso Nacional aprova a lei
Adolfo Gordo. O dispositivo legalizava a expulsão de estrangeiros envolvidos em
protestos. A maioria dos trabalhadores urbanos com participação política era
constituída por imigrantes, o que os colocava em posição de fragilidade diante
da legislação nacional.
Em 1919 é promulgada uma lei de proteção a acidentados no trabalho e, em
1923, apareceram as normas para a instituição das caixas de pensão destinadas a
ferroviários.
Surge também um dispositivo que buscava disciplinar o emprego de menores
de 18 anos. Ainda existia institucionalmente o trabalho infantil, algo proibido
pela legislação atual.
As reivindicações mais comuns eram o aumento de salários, a redução de
jornada – trabalhava-se de 12 a 16 horas diárias –, o fim da exploração de
menores e mulheres e a melhoria das condições gerais de trabalho, dentre
outras. Não havia legislação social abrangente. Vigorava o regulamento de cada
fábrica, nas quais, não raro, os castigos físicos apareciam como norma
disciplinadora usual. No fundo, apesar da Abolição, as relações entre patrões e
trabalhadores eram de quase servidão.
Revolução e industrialização
O Brasil das primeiras décadas do século 20 era uma economia exportadora
de produtos agrícolas para os países desenvolvidos. A principal mercadoria –
desde meados do século anterior – era o café. O capital gerado por sua
comercialização irrigava toda a economia, financiava as importações e
possibilitava o aumento da industriazação e a constituição de um incipiente
mercado interno.
A deflagração da I Guerra Mundial (1914–18) freou as exportações e
encareceu as importações. A economia mundial se retraiu, após décadas de
expansão. A entrada de capital estrangeiro no Brasil sofreu uma freada brusca.
Uma crise econômica batia às portas.
Em junho de 1917, uma greve geral paralisa totalmente a cidade de São
Paulo por oito dias. Os trabalhadores, organizados, entram com uma nova
qualidade na agenda política nacional. Vitorioso, o movimento por melhores
salários assusta as elites e demonstra que os limites institucionais da
primeira República estavam se tornando estreitos para enquadrar uma nova
complexidade social.
Nos anos seguintes, manifestações de descontentamento com a ordem
vigente se espalham. O movimento tenentista, em 1922, a Revolução de 1924, em
São Paulo, e a Coluna Prestes, entre 1925 e 1927, dentre outros eventos,
fustigam o arranjo de forças que dominava o país desde 1889.
Os efeitos da quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, deterioram a
economia nacional, acelerando a crise política interna. Em 24 de outubro do ano
seguinte, o Presidente da República, Washington Luís, é deposto pelos ministros
militares. No dia 3 de novembro, no processo que ficaria conhecido como
Revolução de 30, Getulio Vargas assume o poder.
Vargas tinha duas metas iniciais: recuperar a economia cafeeira e
disciplinar a organização do mundo do trabalho, que se tornara mais complexo.
Começava a maior ruptura institucional brasileira desde a Independência. A
partir dali, o Estado nacional seria reformulado, o país marcharia por um
processo acelerado de industrialização e as relações entre as classes sociais
mudariam.
Contradição institucional
A nova administração criaria direitos sociais em escala e amplitude
nunca vistas na história do país. Ao mesmo tempo, era implantado um governo
ditatorial, com prisões arbitrárias, tortura, censura à imprensa e forte
repressão política.
A contradição se explica pelo fato de Vargas e seu governo terem buscado
resolver a complexidade que o país adquirira com respostas imediatas. Buscaram
atender parte das reivindicações dos trabalhadores e construir veios
institucionais por onde as demandas pudessem fluir. A arrancada
industrializante seria centrada no Estado.
A iniciativa privada não tinha interesse nem condições para realizar os
pesados investimentos em infraestrutura necessários para atingir os objetivos
oficiais.
Poucas semanas depois de assumir o poder, em 26 de novembro de 1930,
Getulio Vargas cria o Ministério do Trabalho Indústria e Comércio. Em março de
1931, é promulgada a primeira lei sindical brasileira, o Decreto nº 19.770. Seu
objetivo era tornar as organizações sindicais de empresários e de trabalhadores
órgãos de colaboração do Estado. As regulamentações buscavam disciplinar,
reconhecer e, ao mesmo tempo, controlar as reivindicações trabalhistas.
Em 1933, Vargas aprova a concessão de férias anuais aos trabalhadores de
comércio e bancos, estendida, mais tarde, a outras categorias. Inicia-se a
montagem da previdência social e proíbe-se o trabalho para crianças menores de
doze anos.
No ano seguinte, uma nova Constituição foi aprovada. Ela consagrava – no
capítulo “Ordem Econômica e Social” – vários parágrafos relativos à organização
e aos direitos do trabalhador, como salário mínimo, férias e descanso semanal
remunerado. Ao mesmo tempo, estipulava-se que “A União poderá expulsar do
território nacional os estrangeiros perigosos à ordem pública ou nocivos aos
interesses do país”.
Em 1935, nova lei garantia a estabilidade no emprego, estipulando
indenização aos assalariados demitidos sem justa causa.
Com uma mão, o governo enquadrava a chamada questão social num projeto
mais geral para o país. Com outra, desatava dura repressão a qualquer
contestação à ordem estabelecida.
O Estado Novo
Em 10 de novembro de 1937, rompendo a legalidade institucional, Getulio
Vargas decreta o Estado Novo, fecha o Senado e a Câmara dos Deputados e anula
as eleições presidenciais previstas para o ano seguinte.
Uma nova Constituição foi outorgada e o mandato presidencial foi
prorrogado. As greves foram proibidas, a pena de morte foi estabelecida e os
meios de comunicação foram colocados sob censura. O Estado se comprometeria com
o ensino primário “obrigatório e gratuito”. O novo regime persegue opositores,
extingue os partidos políticos e se torna uma ditadura sem máscaras.
Em 1º de maio de 1940, o governo atende a uma antiga reivindicação dos
trabalhadores, a criação de um salário mínimo nacional. Finalmente, em maio de
1943, todo o conjunto de leis, decretos e normas existente é sistematizado na
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ela se voltaria basicamente para três
questões: os direitos do trabalhador, a organização sindical e a Justiça do
Trabalho.
A partir dali, no entanto, o regime perde apoio. Desde 1942,
manifestações populares pela democracia e pela entrada do Brasil na II Guerra
Mundial (1939–45) aconteceram em várias cidades. Após intensa pressão popular,
o Estado Novo começa a ceder. Em abril de 1945, Vargas concede a anistia a
todos os presos políticos. Finalmente, um golpe militar depõe a ditadura em 29
de outubro de 1945.
O legado desses anos é aparentemente contraditório. Mas Vargas foi hábil
em conceder direitos sociais havia muito reivindicados pela sociedade e
incorporá-los num projeto paternalista de poder.
Democratização inquieta
A Constituição de 1946 foi a mais democrática e abrangente de todas até
então. Entre as inovações estavam a “participação obrigatória e direta do
trabalhador nos lucros da empresa”, a jornada diária de oito horas de trabalho,
a “proibição de trabalho a menores de catorze anos”, a “assistência aos
desempregados”, a obrigatoriedade da “instituição do seguro pelo empregador
contra os acidentes do trabalho” e a assistência à maternidade, à infância e à
adolescência. Além disso, o direito de greve estava garantido, e a educação era
reafirmada como direito de todos.
Sob o impulso de mobilizações amplas, o sindicalismo conheceu uma
ascensão até 1947. Houve um expressivo aumento do número de greves. Em setembro
de 1946, com a presença de 2,4 mil delegados, realiza-se o Congresso Sindical
dos Trabalhadores do Brasil. Surge aí a Confederação Geral dos Trabalhadores do
Brasil (CGTB).
A reação não tardou. Produto da Guerra Fria e das tendências não
democráticas das elites brasileiras, o governo Eurico Gaspar Dutra (1946–51)
alinha-se aos Estados Unidos no plano internacional. Os avanços democráticos
alcançados na Constituição sofrem um retrocesso. O direito de greve é abolido
em 1946. A CGTB é fechada, antes mesmo de conseguir estruturar-se, e 234
sindicatos sofrem intervenção até 1949.
Mobilizações em alta
Em 1950, Getulio Vargas volta à Presidência pelo voto direto. Uma de
suas medidas, após a posse, é acabar com a exigência do atestado ideológico
para os participantes de eleições sindicais. Houve um sensível aumento da
mobilização social, e o país via crescer novamente as inquietações populares.
Em março e abril de 1953 ocorre em São Paulo uma greve de grande
envergadura, deflagrada a partir de reivindicações de têxteis e metalúrgicos.
Logo alcançaria outras categorias, como vidreiros, gráficos e marceneiros. As
atividades estenderam-se por Santos e Sorocaba, no maior movimento paredista
desde 1917. Ficou conhecida como a Greve dos 300 mil. Os anos 1950 assinalam
também o crescimento das lutas no campo.
Até 1964, o país viveria uma maré montante de mobilizações sociais que
assustariam as elites. O clima de agitação crescente atravessou os governos de
Juscelino Kubitschek (1956–61), Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961–64).
Em oposição a estes, o conservadorismo articulava-se nas forças armadas, nos
meios empresariais, na Igreja Católica, na intelectualidade e na classe média.
No ano de 1962, João Goulart legaliza os sindicatos rurais. No ano
seguinte é promulgado o Estatuto do Trabalhador Rural, referendando vários
direitos sociais. A ascensão do movimento sindical chega ao auge em outubro de
1963, com a Greve dos 700 mil, em São Paulo. Além de um aumento salarial de
80%, as categorias envolvidas – metalúrgicos, têxteis, gráficos, químicos,
papeleiros e sapateiros – exigem negociação conjunta com a Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A reivindicação salarial é atendida,
mas não a unificação das datas-base.
Ditadura
Em 1º de abril de 1964, Goulart é deposto e o país mergulha numa
ditadura pelos 21 anos seguintes. O golpe militar coloca na ilegalidade as
principais organizações democráticas.
A ditadura decreta o congelamento dos salários e intervenções em 342
sindicatos, 43 federações e três confederações de trabalhadores. Cerca de 90%
dos sindicatos rurais criados entre 1963 e 1964 são fechados. Em 1965, o número
de greves cai para 25, contra mais de 150, em 1963.
Quatro anos depois, apesar das cassações e prisões, o movimento popular
– trabalhadores, estudantes, artistas e intelectuais – ainda conseguiria
realizar protestos abertos e maciços, como a Passeata dos 100 mil, realizada em
junho, no Rio. Era o ponto alto de uma série de manifestações públicas que
colocaram o regime contra a parede.
Outras mobilizações significativas do período são as greves das cidades
de Contagem (MG) e Osasco (SP). No primeiro caso, uma ação espontânea paralisa
15 mil dos 20 mil trabalhadores da cidade. Em Osasco, a mobilização liderada
pelo Sindicato dos Metalúrgicos resulta em três dias da greve, a partir de 16 de
junho. A entidade sofre intervenção governamental e cerca de quatrocentos
trabalhadores são presos em ação violenta do Exército.
A política econômica da ditadura, baseada em investimento estatal e
entrada maciça de capital externo, gera uma expansão inédita. Entre 1970 e
1973, a população, em especial a classe média, fica inebriada com o crescimento
econômico que batia os 10% ao ano. A propaganda oficial chamou o fenômeno, que
legitimava o regime e isolava as vozes descontentes, de milagre brasileiro. O
período coincide com a fase mais dura e repressiva da ditadura. Ao mesmo tempo,
os salários tinham reajustes baseados em índices inflacionários que se
mostraram maquiados mais tarde.
Voltam as mobilizações
Na metade dos anos 1970, o milagre entraria em crise. Uma turbulência
internacional bate à porta do país e reduz o fluxo de capital estrangeiro. Os
juros internacionais aumentam expressivamente e o endividamento externo provoca
desaceleração econômica.
A reanimação do movimento sindical aconteceria mais de uma década após o
golpe, com a greve dos metalúrgicos do ABC paulista, em 1978. O impulso
mobilizador se materializa na construção ou reconstrução de entidades de massa,
no surgimento de novos partidos e na legalização de agremiações colocadas na
ilegalidade.
O movimento popular atinge seu pico de mobilizações em 1984, através da campanha das Diretas-já! para a Presidência da República. Milhões vão às ruas exigir o fim da ditadura. Esta acaba, em 1985, com a eleição, de forma indireta, do candidato da oposição Tancredo Neves (1910–85), que morre antes de tomar posse. Seu vice, José Sarney, assumiria o governo.
O movimento popular atinge seu pico de mobilizações em 1984, através da campanha das Diretas-já! para a Presidência da República. Milhões vão às ruas exigir o fim da ditadura. Esta acaba, em 1985, com a eleição, de forma indireta, do candidato da oposição Tancredo Neves (1910–85), que morre antes de tomar posse. Seu vice, José Sarney, assumiria o governo.
O rearranjo institucional do país foi dado pela Assembleia Constituinte
de 1988, que substituiria a Carta imposta pelos militares em 1967. Ela
representa o ponto alto das conquistas sociais demandadas nos anos finais da
ditadura. O movimento popular teve papel destacado durante o processo de
elaboração da Constituição, apresentando emendas sobre os direitos sociais e
pressionando por sua aprovação.
As iniciativas pelas chamadas emendas populares aconteciam
concomitantemente a extensas greves, como a dos eletricitários, que atingiu
sete estados, a dos petroleiros, que alcançou oito e a dos servidores federais,
que mobilizou 400 mil trabalhadores em todo o país.
A Constituição de 1988 é a mais avançada da história brasileira no que
toca aos direitos sociais e às garantias e direitos individuais. Sobre ela, a
socióloga Maria Victoria Benevides diz o seguinte:
“Nossa Carta Magna reflete uma feliz combinação de direitos humanos e de
direitos do cidadão, de tal sorte que lutar pela cidadania democrática e
enfrentar a questão social no Brasil praticamente se confunde com a luta pelos
direitos humanos – ambos entendidos como resultado de uma longa história de
lutas sociais e de reconhecimento, ético e político, da dignidade intrínseca de
todo ser humano, independentemente de quaisquer distinções”.
Liberalismo e retrocesso
Se os anos 1980 assinalaram um notável desenvolvimento da democracia, a
década de 1990 representa a reversão dessa tendência. Ao longo daqueles anos,
um acelerado processo de privatizações, de redução do papel social do Estado e
de desregulamentação iria resultar em desaceleração econômica e alta
exponencial do desemprego.
Uma espécie de lema daqueles anos era “acabar com a Era Vargas”, segundo
algumas lideranças políticas.
Nos últimos anos, pouco a pouco alguns dos aspectos negativos das
políticas desse período vão sendo modificadas. A queda dos índices de
desemprego e uma retomada ainda limitada do crescimento resulta – como
assinalado no início desta matéria – em mudanças na composição social
brasileira.
A luta pelos direitos trabalhistas tem um longo caminho pela frente. Ela
interessa não apenas aos trabalhadores, mas a todos os que se batem pela
ampliação do mercado interno e por uma convivência mais harmônica e democrática
entre os brasileiros.
Gilberto Maringoni – Historiador e professor da UFABC – Março de 2013
IN
Revista do desenvolvimento, ano 10, No. 76, IPEA – http://desafios.ipea.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2909:catid=28&Itemid=23