terça-feira, 23 de julho de 2013

Filhos de gays se saem melhor do que os outros


Chega de preconceito. Adolescentes criados por mães lésbicas vão melhor na escola, têm mais amigos e se sentem bem consigo mesmos. Precisa de mais?

Nanette Gastrell
Nos últimos 30 anos, diversos estudos têm demonstrado que a orientação sexual dos pais não influencia o ajusstamento psicológico e social das crianças. Mas alguns  críticos ainda questionam a legitimidade da criação de filhos em lares gays, lembrando que a maioria dos adolescentes estudados nasceu em uniões heterossexuais antes que a mãe se divorciasse e se assumisse como lésbica. Minha pesquisa vai além: eu acompanho a primeira geração americana de famílias lésbicas planejadas, nas quaias as mães já se identificavam assim antes da inseminação artificial. Portanto, estudo seus filhos desde que nasceram. E constatei que, aos 17 anos, eles se saíram ainda melhor, em alguns aspectos, que outros adolescentes da mesma idade.
Os filhos das lésbicas tiveram melhor desempenho na escola e nas interações sociais, por exemplo, do que garotos de famílias heterossexuais. Também apresentaram menos problemas de comportamento, como agressividade e violação de regras. No total foram 154 lésbicas ( Solteiras e com companheiras)  se inscreveram entre 1986 e 1992. Desde então, temos reunido dados por meio de entrevistas e questionários. E os resultados surpreenderam.
Para medir a qualidade de vida,  foram pedidos aos 78 adolescentes filhos de lésbicas que completassem uma pesquisa com frases como “ Eu me dou bem com meus pais “ou mais “me sinto bem comigo mesmo” que deviam ser avaliadas 0 ( discordo ) a 10 ( concordo totalmente ). As respostas foram comparadas com as de 78 adolescentes pareados por sexo, idade e etnia. E não foram encontradas diferenças entre os dois grupos, como era esperado. A surpresa veio quando pedimos que descrevessem suas vidas em detalhes. Comprovou-se que os filhos das lésbicas eram muito bons nas escolas, tinham diversos amigos de longa data e fortes laços familiares. Numa escala de 1 a 10, eles deram 8,4 em média para o seu bem estar, o que não é comum estre adolescentes. E 93,4% consideraram que suas mães são bons modelos a seguir, excepcionalmente para a faixa etária.
Esse desempenho não é por acaso. As mães que participaram do estudo se comprometeram em participar ativamente da vida dos filhos. Precisaram educar todo mundo à sua volta sobre famílias lesbicas, do obstetra às professoras. Também participaram de programas anti-bulying nas escolas. Elas dedicaram muito tempo para tornar o caminho dos filhos o mais seguro e saudável possível. Quase metade das crianças do estudo havia sido alvo de comentários homofóbicos, porém souberam lidar com isso.
Apesar de todas essas evidências, ainda existe o mito de que gays e lesbicas não podem ser bons pais, tal como diziam os juízes americanos nos anos 70, ao negar a custódia dos filhos a homossexuais divorciados. Quando as primeiras pesquisas indicaram que os filhos de gays e lésbicas estavam se dando bem, os juízes argumentavam que não haviam estudos longitudinais confirmando isso. Em 1982, um banco de esperma abriu as portas pela primeira vez a lésbicas que queriam engravidar. Na época eu era uma pesquisadora da Escola de Medicina de Harvard, e vi que um novo fenômeno social estava surgindo. Por isso iniciei o NLLFS – o mais longo estudo já feito. Com ele, os juízes já não podem levar adiante seu preconceito.


Nanette Gastrell – Psiquiatra e investigadora principal do Estudo Nacional Longitudinal de Famílias Lésbicas dos EUA (NLLFS), em São Francisco. Em depoimento a Eduardo Szklarz – fevereiro de 2013.